Protestos podem originar geração mais politizada

Postado em 01 julho 2013 07:30 por JEAcontece
15.292.411/0001-75

Uma nova geração mais informada e fiscalizadora da política deve ser formada a partir da onda de protestos que mobilizou o Brasil. Sociólogos e cientistas políticos ainda têm dificuldade em classificar os acontecimentos, mas os resultados obtidos pelo povo nas ruas podem servir de incentivo para os jovens passarem a reivindicar suas demandas cada vez mais.
“É um embrião de outra sociabilidade que não pode ser contida no âmbito das instituições tracionais. A não ser que elas se modifiquem”, afirma o professor de Filosofia e Sociologia da PUCRS Adão Clóvis Martins dos Santos. A mobilização começou em Porto Alegre com pautas muito objetivas: redução da tarifa de ônibus e defesa das árvores no entorno da Usina do Gasômetro.

No entanto, mais tarde, outras demandas, também relacionadas ao espaço público, se incorporaram. “Não é algo isolado. Ocorre como uma onda em todo o mundo ocidental”, diz. Para Santos, os atos no Brasil e em outros países são reflexo de uma revolta com políticas restritivas, as quais só beneficiam uma parcela da sociedade. “Instituições em crise não conseguem trazer significado”, continua Santos. Essa é uma das explicações para a revolta agressiva de uma parte dos manifestantes. Em um primeiro momento, na avaliação do professor, o protesto é pacífico, até chegar a um determinado ponto em que os jovens não podem seguir. Para Santos, existe uma política de confinamento da juventude, o que também resulta em violência de alguns. Contudo, a maioria tem medo.

A ativista Lorena Castillo argumenta que ações violentas de certos manifestantes são uma resposta ao comportamento das autoridades. Segundo ela, o movimento nunca pretendeu ter controle de toda a massa nem conseguiria. Lorena observa que os mais pobres são discriminados como alvos da repressão policial. Sobre a questão, o chefe da Comunicação Social da Brigada Militar, coronel Eviltom Pereira Diaz, afirma que a corporação está orientada a não agir dessa forma. Qualquer situação que fuja da legalidade será investigada. “Os canais para denúncia estão abertos”, ressalta o oficial.

Longe dos vândalos

As entidades de classe da Brigada Militar fazem alerta aos manifestantes pacíficos para evitar que fiquem feridos em confrontos. O presidente da Associação dos Oficiais da BM, tenente-coronel José Carlos Riccardi Guimarães, manda um recado: “Quem não quer se envolver com lobos, não vista a pele deles ou não se aproxime da alcateia”. Já o líder dos servidores de nível médio da corporação, Leonel Lucas, pede que não tentem pacificar vândalos.

Lorena observa que os resultados obtidos pelo grupo de jovens de Porto Alegre e do Brasil, como a redução da tarifa de passagens, passe livre para estudantes e derrubada da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 37, são apenas parte das demandas. “Não representam questões concretas que estamos apresentando. As vitórias são parciais e não nos desmobilizam”, declara.

A tendência é de que as manifestações sigam ocorrendo. O desafio é tornar o grupo mais organizado e politizado. O Brasil vive um momento de antes e depois das manifestações. Com a tentativa de setores do poder público de responder às reivindicações apresentadas nas ruas do país, amplos setores da população descobriram que podem ser ouvidos e que, com algumas limitações, é possível conseguir que os suas demandas sejam atendidas.

“O mais difícil é discutir alternativas”

Os protestos no Brasil passaram a ser uma catarse ao ar livre em razão de insatisfações, na opinião do professor do programa de pós-graduação de Ciência Política da Ufrgs Rodrigo González. Muitos dos que vão para as ruas não sabem o porquê de estarem protestando. Uniram-se a grupos que tinham reivindicações claras e passaram a pedir mudanças mais amplas. “Cada um tem a sua motivação. Há mais um sentimento de insatisfação com o modelo político no país do que a exigência de algo específico”, avalia.

Muitos dos questionamentos são vagos e difíceis de serem solucionados. “É muito mais difícil discutir alternativas do que sair para a rua e gritar”, comenta. González constata que existe uma frustração quando os manifestantes chegam para a mesa de negociação. “No manifesto, é quando se pensa no sonho impossível. Na hora de negociar, voltamos para a vida real, em que há limites econômicos, jurídicos e de espaço e tempo”, ressalta.

Por outro lado, o professor lembra que o fenômeno de atos pode servir para buscar uma juventude que estava longe do processo político. “Pode resultar em eleitores mais conscientes. Não adianta mudar o sistema se o eleitor não é consciente”, afirma. González também acredita em um processo de oxigenação no ambiente público. “Surgem líderes que serão candidatos a algum cargo.” Ele acredita que, na medida em que houve resposta das autoridades, deve ocorrer um processo de desmobilização.

(Correio do Povo)

Postado em 01 julho 2013 07:30 por JEAcontece
15.292.411/0001-75
TAPERA TEMPO

Desenvolvido com 💜 por Life is a Loop