Médico veterinário Bruno Webber Klaser do Centro de Diagnóstico Laboratorial Veterinário do Hospital Veterinário da UPF destaca a importância e os critérios para que cães e gatos possam ser doadores
Os cachorros e gatos são conhecidos pelo seu amor incondicional. Além de proporcionar carinho aos seus donos, os pets de estimação também podem salvar vidas por meio da doação de sangue. O médico veterinário Bruno Webber Klaser do Centro de Diagnóstico Laboratorial Veterinário do Hospital Veterinário da Universidade de Passo Fundo (UPF), ressalta a importância da doação para o animal.
Esta pode ser necessária para melhora clínica do paciente, principalmente em quadros de anemia grave. As doações apenas serão realizadas após criteriosa avaliação clínica e laboratorial, obtendo resultados que vão guiar o médico veterinário quanto a necessidade do animal receber a transfusão e o volume a ser transfundido”, salienta Klaser.
O Hospital Veterinário da Universidade de Passo Fundo conta com equipe e laboratórios preparados para receber as demandas relacionadas a quadros graves e que necessitam de transfusão sanguínea, sendo esta atividade rotineira na clínica médica de pequenos animais.
Doação que salva vidas
Goiaba é uma alegre cachorrinha que teve a sua vida salva por Tobias. Segundo o dono de Goiaba, o roteirista Eugênio Siqueira, a cachorra sem raça definida, costumava fugir do pátio e ir até uma lavoura nas proximidades. “Algumas vezes ela voltava com carrapato. Até que contraiu a doença do carrapato, uma infecção grave, onde parasitas atacam o sangue do cachorro e pode levar a morte”, salienta o roteirista.
Aos cinco anos, Goiaba precisou de doação de sangue, para ajudar no combate da doença e do tratamento. Na época, a cachorra também apresentou problemas no coração. Para Eugênio, a doação de sangue entre pets deve ser divulgada e incentivada com programas locais que possibilitem a doação.
Assim como para os seres humanos, acredito que a doação de sangue seja muito importante. Quem ama o seu animal de estimação é capaz de tudo para ver o seu pet bem. Se há opção de transfusão de sangue como tratamento, é importante contribuir para que a doação seja incentivada”, finaliza Eugênio.
A história de Goiaba e Tobias ainda possui elos mais fortes. A tutora de Tobias é mãe de Eugênio. Para Salete Dilza Siqueira é necessário conscientizar as pessoas sobre a importância da doação. “Este ato de doação é fundamental para salvar os nossos bichinhos de estimação. Se os bancos de sangue humanos já possuem dificuldades em conscientizar as pessoas a doarem sangue e manter seus estoques, imagina para cães e gatos, que poucas pessoas conhecem o assunto ou sequer pensam nisso”, finaliza Salete.
Conforme o médico veterinário Bruno Webber Klaser, os bancos de sangue encontram-se instalados apenas nos grandes centros e realizam a separação de hemocomponentes para que o animal receba a fração do sangue que mais necessita.
Os critérios para que cães e gatos possam ser doadores
Apesar de ser pouco conhecida entre os tutores, a doação de sangue de pets possui os padrões rigorosos de segurança – assim como é feito na doação entre humanos. Ainda de acordo com veterinário Bruno, os cães e gatos devem passar por exames de check-up, serem vacinados e vermifugados. “Cães e gatos não podem ter sido submetidos a transfusões prévias. As fêmeas gestantes ou lactantes não poderão ser selecionados como doadores”, enfatiza o médico veterinário.
Outros critérios observados pelo veterinário é de que em cães, a doação deve ser feita entre um a oito anos, com no mínimo 25 quilos e negativos as principais doenças infecciosas. Já os felinos, também devem ter de um a oito anos, estarem pesando mais de quatro quilos, sem acesso a rua, e devem ser negativos as principais doenças infecciosas principalmente FIV e FeLV. A doação pode ser realizada a cada três meses. Em cães, a doação é de 450ml e no caso dos gatos de 45 a 60ml.
Os tipos sanguíneos dos animais
Assim como os humanos, os cães e gatos possuem a sua tipagem sanguínea. Conforme Klaser, os caninos possuem tipos sanguíneos que são conhecidos como DEA 1 sendo subdividido em DEA 1.1, 1.2 e 1.3, DEA de 3 a 8, tipo DAL e mais recentemente o tipo Kai. “Os tipos mais importantes são o DEA 1.1 positivo ou negativo sendo os únicos onde a tipagem é realizada. Já o DEA 3, 5 e DAL são incomuns” destaca o veterinário.
Os felinos possuem o tipo predominantemente mais comum nos gatos é o tipo A, sendo o B, AB e Mik menos comuns. No entanto, os tipos sanguíneos se dividem em 3 principais, sendo estes o A, B, AB e menos comumente o tipo Mik.
Para as doações de sangue, Bruno acrescenta que os animais também devem passar por uma triagem que inclui a tipagem sanguínea realizada para os tipos mais comuns DEA 1.1 positivo ou negativo em cães, e em tipo A, B ou AB em gatos, para avaliar a compatibilidade entre doador e receptor. Além disso, o exame denominado prova de compatibilidade sanguínea é imprescindível de ser realizado antes de qualquer transfusão, reduzindo os riscos de reações transfusionais.
Anemia e exames complementares
Os quadros de anemia assustam os tutores. Para Bruno, a anemia costuma se manifestar como um sinal clínico de diversas doenças. “Podemos ter como causas a perda sanguínea em quadros de traumas relacionados a atropelamentos ou quando ocorre interação animal com lesões extensas e sanguinolentas. A anemia também pode se manifestar em decorrência de diversos parasitas e quadros infecciosos, ruptura de tumores, doença renal crônica e causas menos comuns como as leucêmicas onde há uma redução na produção de glóbulos vermelhos denominados hemácias”, salienta.
O médico veterinário ainda destaca que nem todos os casos de anemia necessitam de transfusão. “É extremamente importante identificar a causa pela qual a anemia está se manifestando, sendo imprescindível a realização de exames complementares como laboratoriais e de imagem para que se direcione o diagnóstico e se possa intervir da melhor forma instituindo a terapêutica adequada para cada caso”, finaliza.
Diário da Manhã
