PASSO FUNDO – Dia Nacional de Luta das Pessoas com Deficiência

Postado em 21 setembro 2020 06:03 por JEAcontece
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Sobre incluir e ser incluído

UPF busca oferecer apoio, estrutura e condições adequadas para que a Universidade seja um espaço de inclusão

Murilo Silveira da Silva, 30 anos, formou-se recentemente em Artes Visuais pela Universidade de Passo Fundo (UPF). Ainda criança, foi diagnosticado com uma deficiência intelectual. A busca pela graduação não foi só pelo desejo de conseguir ser inserido no mundo do trabalho. Ele conquistou muito mais do que isso. Murilo ingressou no ensino superior para também se preparar para a vida. Encontrou dificuldades, mas também achou um espaço de inclusão. A educação inclusiva no ensino superior vem sendo construída ano a ano. E para marcar esta e outras tantas reflexões sobre o tema, celebra-se, no dia 21 de setembro, o Dia Nacional de Luta das Pessoas com Deficiência.

Murilo desenha, pinta e gosta de fotografar. Expõe sua arte no Instagram (@murilosilveira_artes) e tem um blog também (https://murilaopf.wixsite.com/galerimurilosilveira). É natural de Porto Alegre e mora em Passo Fundo desde os 4 anos. Antes de começar a fazer Artes Visuais Bacharelado (B), cursou, por alguns semestres, Letras e também Artes Visuais Licenciatura (L). “Gosto de desenhar pessoas e bichos. Acho mais interessante do que paisagens, embora desenhe paisagens também”, comenta o egresso da UPF.

As obras do Murilo representam o olhar sobre o mundo ao seu redor. Ele também está atento as causas sociais mundiais. Uma das suas obras mais recentes é referente aos protestos antirracistas nos EUA. “Todos nós somos pessoas, não importa a cor que a pessoa tenha”, afirma.

E o desejo futuro do artista é ver as suas obras conquistando novos espaços. “O meu sonho é ter um ateliê”, revela Murilo.

A luta pela inclusão
A busca por inclusão começou quando Murilo ainda era criança. “A deficiência dele, por se tratar de intelectual, tem características muito peculiares. A percepção só foi se dar de forma mais concreta quando ingressou na primeira série, quando demonstrou maiores dificuldades de interação no grupo e algum déficit na coordenação motora”, relata a mãe Laura Regina da Silveira, funcionária pública, que tem outros dois filhos.

A deficiência não foi a única coisa que os pais perceberam naquela época, quando se mudaram para Passo Fundo, há cerca de 25 anos. “A gente percebeu que a diferença ainda faz diferença na vida das pessoas. As diferenças ainda não são compreendidas. Infelizmente, ao chegar para fixar residência em Passo Fundo, na época, várias escolas simplesmente rejeitaram, sem pudor de referir que não tinham condições de aceitar deficientes, apesar de já existir lei”, lembra Laura.

Os pais aprendem muito com o Murilo. “É uma gratidão em ter a oportunidade de sermos pais dele. Ele nasceu com o coração grande demais e transbordou. Ele nos traz uma aprendizagem muito importante que é o jeito dele ser e de se inserir nas coisas”, declara a mãe.

O primeiro dia de aula na UPF
A transição do ensino médio para o ensino superior é um passo importante e também um momento de grande expectativa, tanto para os estudantes, quanto para os pais ou responsáveis dos acadêmicos. Para os pais que têm filhos com alguma deficiência, a ansiedade é ainda mais intensa. “O primeiro desafio foi como ir para a aula. O desafio era pegar ônibus. Na volta combinamos que eu buscaria em um ponto de ônibus, só que ele se atrapalhou, pegou ônibus errado, mas no final deu tudo certo. Ele conseguiu fazer toda a Faculdade. Nós tínhamos um medo grande, porque ele sempre se perde”, relembra o pai, Pedro Dilmar Santos da Silva, funcionário público.

Quem conhece o campus UPF, em Passo Fundo, sabe o quanto ele é grande, com mais de 400 hectares de área total, um espaço acolhedor, com muito verde e cheio de conhecimento. “O Murilo surpreendeu a gente, porque a Universidade tem espaço amplo e ele sempre conseguiu se orientar”, destaca o pai.

Universidade prepara para a vida, não só para o mercado de trabalho
Os pais do Murilo receberam muitas indagações sobre o motivo pelo qual o filho cursaria o ensino superior, especialmente sobre as incertezas no mercado de trabalho. “Nem todas as pessoas que frequentam o mundo acadêmico estão pensando exclusivamente no mundo de trabalho. O mundo acadêmico tem outras variedades de interesse para uma comunidade. É para ser um nicho de manutenção e estímulo a cultura de uma sociedade”, salienta Laura, reforçando outras possibilidades. “As pessoas estudam não só para o mercado de trabalho, mas para entenderem a si mesmas e se prepararem para a vida de forma geral, para conviver em um ambiente de interação cultural”, enfatiza a mãe do Murilo.

Instigar novos desafios
A preocupação com o bem-estar, com o convívio, com a inclusão dos filhos está sempre presente. “A gente acaba tendo cuidado diferente. Aquelas pessoas que estão na relação dele, como os colegas de aula, reconhecem, sabem como tratar o Murilo, mas saiu desse espaço, as pessoas tratam diferente e o Murilo sente isso. Mas ele aprende, acaba convivendo com as diferenças e cria os mecanismos dele”, comenta Silva.

Mas o desejo que os filhos se desenvolvam e criem independência impulsionam os pais a incentivarem novos desafios. “A gente está sempre tentando empurrar ele para um novo desafio. A gente pede que as pessoas, que por algum motivo tenham medo da insegurança, das dúvidas, do que pode acontecer com seus filhos, vá um passinho além, porque estes momentos, oportunidades e desafios serão muito importantes na vida deles”, afirma a mãe do Murilo.

Universidade: espaço de inclusão
A Universidade de Passo Fundo (UPF) tem 43 estudantes com deficiência ou necessidades educacionais especiais. A intensão é sempre oferecer a melhor adaptação, acessibilidade, inclusão e permanência deles no espaço acadêmico. E para isso, conta com o Setor de Atenção ao Estudante (Saes).

O setor trabalha em duas frentes: Aprendizagem e Permanência, oferecendo acolhimento multiprofissional que envolve os serviços de Psicologia, Psicopedagogia, Psiquiatria, Serviço Social e Tecnologia Assistiva. “O Saes dialoga com direção, coordenação, professores, familiares e alunos, pensando em conjunto as adaptações necessárias em cada caso. Alguns alunos necessitam de acompanhamento psicopedagógico, monitoria, mobilidade, interpretação/tradução em Libras, adaptação de materiais, utilização de softwares para leitura (NVDA, Dosvox), ledor/transcritor”, explica a pedagoga do Saes, Thais Rocha Lopes.

O Saes conta ainda com o projeto Aluno Apoiador, o qual oferece a todos os acadêmicos aulas de apoio em disciplinas conforme a necessidade do aluno, estimulando a comunicação entre pares e colaborando com o processo de ensino-aprendizagem. “O Saes está nesta luta pelo direito de ser diferente na diferença”, ressalta Thais.

E os pais reconhecem este trabalho feito pelo Saes. “As dificuldades existiram, mas houve momentos de conforto e esperança entre eles o trabalho do Saes, que acolheu o Murilo e fez com q ele se sentisse mais inserido na Universidade”, enfatiza a mãe do Murilo.

Mas o que é, de fato, a inclusão?
A inclusão é um tema que vem sendo debatido ao longo dos anos, já que permeia a sociedade como um todo. Apesar dos avanços conquistados, ainda há muito o que se fazer quando se fala na inclusão de pessoas com deficiência. O mês de setembro é marcado por ações em prol dessa temática, já que o dia 21 marca a luta pela inclusão das pessoas com deficiência, data que foi oficializada pela Lei 11.133, em 14 de julho de 2005.

Muitas questões devem ser levadas em conta quando se pensa em inclusão. “Deve-se pensar desde o contexto no qual a pessoa vive até os locais que ela frequenta ou desejaria frequentar, pois nem todos são acessíveis”, explica a psicóloga do Saes, Regina Ampese.

As barreiras que dificultam e/ou impedem a acessibilidade das pessoas com deficiência são muitas, mas as mais comuns são: as arquitetônicas, que dizem respeito ao espaço físico, aos ambientes; e as atitudinais, que se referem aos preconceitos, julgamentos, estereótipos, entre outros.

Inclusão de todos
A luta das pessoas com deficiência para serem de fato incluídas, gerou em diversos países, um lema “Nada sobre nós, sem nós”. “É necessária a participação plena das pessoas com deficiência nas decisões sobre tudo aquilo que lhes diz respeito. Esse é de fato o sentido da inclusão, não apenas para pessoas com deficiência, mas para todos aqueles que são excluídos ou ficam “de lado, a parte” nos processos sociais”, destaca Regina.

Incluir é permitir que a pessoa também tenha voz e possa dizer aquilo que considera melhor para si e para seus pares. Nesse sentido, as integrantes do Saes citam os escritores Peter Mittler, Susan Stainback e William Stainback, referências no tema, que afirmam que “o ensino inclusivo é a prática da inclusão de todos – independente de seu talento, deficiência, origem socioeconômica ou origem cultural – em escolas e salas de aula provedoras, onde todas as necessidades dos alunos são satisfeitas”.

Fotos: Divulgação: Arquivo pessoal
Assessoria de Imprensa Universidade de Passo Fundo

Postado em 21 setembro 2020 06:03 por JEAcontece
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