“O golpista aposta na ganância humana”, diz psicóloga sobre golpe do bilhete premiado

Postado em 15 março 2018 10:06 por JEAcontece
15.292.411/0001-75

Recentemente, uma idosa entregou quase R$ 30 mil em dinheiro e meio quilo de ouro a golpistas. Profissional explica motivos que levam vítimas a caírem em um golpe conhecido no município

Uma idosa de 86 anos foi abordada por uma mulher que aparentava ter aproximadamente 20 anos, na Rua Dona Elisa, em Passo Fundo, na manhã da sexta-feira (9). A jovem, que afirmou ser analfabeta, disse ter um bilhete premiado no valor R$ 3 milhões e precisava de ajuda para receber o valor. A suposta premiada afirmou que recompensaria a idosa caso ela ajudasse.

Nesse momento, um homem, de cerca de 40 anos, chegou próximo às duas e ofereceu apoio. Para provar que era honesto, ele mostrou que possuía uma quantia em dinheiro. A idosa, por sua vez, para mostrar que também era honesta, realizou três saques em bancos diferentes: o montante chegou a R$ 24 mil.

Depois, a idosa foi em casa e entregou mais R$ 4 mil e meio quilo de ouro à dupla. Após fazer isso, ela esperava ganhar um terço do valor do suposto bilhete premiado, ou seja, R$ 1 milhão. O homem disse que levaria a jovem para casa e depois retornaria com o dinheiro da idosa. “Está até o momento esperando o retorno”, diz o boletim da ocorrência registrado na Polícia Civil pelo crime de estelionato.

A idosa caiu em um golpe antigo, mas que faz diversas vítimas em Passo Fundo: o chamado golpe do bilhete premiado. De acordo com o chefe de investigações da 2ª Delegacia da Polícia de Passo Fundo, Luis Castaldi, a delegacia registra entre um e dois casos por semana.

Esse tipo de crime acontece na maioria das vezes com idosos, mas existem também registros envolvendo pessoas mais jovens. “Geralmente chega uma pessoa se fazendo de humilde, de analfabeto, de colono, morador de fora e aborda a vítima. Aí começa a conversa, dizendo que está procurando um endereço ou outra coisa. Depois chega um malandro, geralmente bem vestido, entra na conversa e eles engambelam a vítima”, explica Castaldi.

A 2ª DP tem mais de 150 estelionatários cadastrados na delegacia, que se envolveram com o golpe do bilhete premiado. E não é só no município que isso ocorre. Segundo Castaldi, é comum os policiais do município ajudarem na investigação de criminosos que praticam o golpe em outras localidades. A 2ª DP investiga o caso da idosa. Ninguém foi preso até o momento.

Por que as pessoas caem no golpe?
O golpe é conhecido, antigo e é noticiado corriqueiramente pela imprensa. No entanto, diversas pessoas ainda “caem” nele. Maria Goreti Betencourt, psicóloga e professora da Universidade de Passo Fundo (UPF), afirma que isso ocorre devido à natureza do ser humano. “É aquilo do espírito ambicioso, de querer mais. Por mais que as pessoas sejam abastadas, elas embarcam porque acreditam que vão ganhar alguma coisa a mais do que aquilo que elas têm. Elas só pensam nas vantagens que poderiam ter”, explica.

A psicóloga afirma que a questão da posição social, financeira ou mesmo de instrução acadêmica nada tem a ver com a possibilidade de a pessoa cair no golpe. “É o lado mais ganancioso. Isso encobre qualquer relação mais cognitiva, de inteligência. Se parar para pensar e se distanciar do problema, tu vê que não tem lógica”, afirma ela, ao completar: “Ninguém, em sã consciência, troca um bilhete no qual ganharia muito mais dinheiro por preço de banana. Qual é a lógica? Não existe”.

Como alertou Castaldi, Goreti afirma que o golpista se coloca em uma situação de fragilidade, de quem precisa de ajuda, de alguém ignorante. O criminoso, por outro lado, geralmente lida bem com relacionamentos interpessoais e tem boa capacidade de persuasão. Por isso, segundo a psicóloga, no momento da abordagem, a vítima afasta-se do pensamento racional.

E isso não é uma questão de personalidade ou de caráter. “Os golpistas são pessoas que entendem o cérebro e o comportamento humano. O golpista aposta na ganância humana e acerta”, diz a psicóloga. “Quando as pessoas se dão conta [do golpe], elas começam a pensar ‘como eu fui tão idiota?’, ‘como eu fui cair?’. Quando caem em si, elas começam a ver que foi um absurdo o que aconteceu”, pontua.

Jornal Diário da Manhã

Postado em 15 março 2018 10:06 por JEAcontece
15.292.411/0001-75
TAPERA TEMPO

Desenvolvido com 💜 por Life is a Loop