As deficiências na área de logística que o Brasil tem, e em especial o RS, nos trouxeram uma preocupação mais forte com a chegada dos grãos de soja. Como produtores, acabamos por concentrar nossos compromissos financeiros para o final do mês de maio. Em razão dos altos valores cobrados pelos fretes para levar a produção até o Porto, os preços do nosso produto ficam prejudicados.

Na medida do possível, precisamos diluir, equilibrar melhor os vencimentos dos compromissos para não nos depararmos com os altos custos dos fretes. Por isto, a Cotribá está redimensionando as suas estruturas de armazenagem para poder trabalhar dentro de uma capacidade que permita estocar o grão até o processo se normalizar, porque é inviável, hoje, trabalhar com os custos no período do pico. Além das tarifas serem muito caras, há demora e perigo no trânsito, além da questão dos portos.

No Rio Grande do Sul, as cooperativas têm parte de um terminal portuário sob sua administração, sendo a outra parte locada do governo. O estado tem problemas de rodovias e ferrovias, acabando por não contemplar a necessidade de escoamento. Um problema menor se comparado a outras regiões do Brasil, como o Mato Grosso, por exemplo, pois sabemos que o Porto de Rio Grande está melhor estruturado que os demais, como Santos e Paranaguá.

Por isto, acreditamos que todos os segmentos envolvidos no agronegócio (sistema de comercialização, portuário, ferroviário, rodoviário, governo) devem se reunir para encaminharem uma solução para esse problema.

O governo anunciou recursos para os produtores construírem estrutura própria de armazenagem. Entretanto, a grande maioria de nós não tem capacidade para captar esses recursos. A atividade agrícola não tem muita margem, pois fica à mercê dos direcionamentos de mercado. A medida tende a favorecer grandes empresas do setor que existem nas regiões Centro-Oeste e Norte do país. Mas, para o perfil do produtor gaúcho, principalmente na região do Alto Jacuí, não há condições de ter o acesso a esses recursos.

Enio Cezar Moura do Nascimento
Vice-presidente e superintendente da Cotribá