Proximidade do verão deixa Delegacia da Mulher em alerta
O número de feminicídios – morte de mulheres em razão do gênero – no Rio Grande do Sul no primeiro semestre de 2015 causa preocupação à Polícia Civil gaúcha. Depois de os indíces baixarem em 2014 em relação a 2012 e 2013, os dados relativos ao primeiro semestre deste ano indicam crescimento neste ano. O levantamento é da Secretaria Estadual da Segurança.
Nos primeiros seis meses de 2015, 40 mulheres foram vítimas desse tipo de crime. O número já passa da metade do ano passado inteiro, quando 75 casos ocorreram. Apenas Porto Alegre registrou quatro casos no primeiro semestre, o mesmo de todo 2014. A titular da Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam) de Porto Alegre, delegada Rosane de Oliveira, admite que o número é preocupante e ressalta a importância da Patrulha Maria da Penha para combater esse tipo de caso.
“Nenhum (caso) foi da delegacia da mulher, mas a gente se preocupa bastante com esse índice. O problema é que a delegacia da mulher não investiga delitos de homicídio, mas é esse acompanhamento que se faz tanto da polícia quanto da patrulha. Aí entra a importância da Patrulha Maria da Penha. Quando é feita a denúncia é que a patrulha começa a trabalhar indo nas casas. A gente não tem ingerência sobre determinadas situações. Temos vários delitos de homens que ameaçam a mulher durante anos e não fazem nada. Tem outros que ameaçam uma vez ou nem ameaçam e acabam cometendo o homicídio”, afirmou.
Em março deste ano, a presidente Dilma Rousseff sancionou a lei que classifica o feminicídio como crime hediondo. Apesar do debate em cima do tema ter aumentado, os números de violência contra a mulher não apresentam variações consideráveis. Os casos de lesão corporal no Estado ficaram em 12.777 no primeiro semestre de 2015, o que indica manutenção da média dos últimos anos. Em 2014, foram 25.593 casos, ante 26.154 em 2013 e outros 27.148 no ano anterior. Os números que se mantêm parecidos nos últimos anos também são os de ameaça e tentativa de feminicídio.
Uma queda significativa nos casos ocorre apenas em relação aos estupros. O primeiro semestre de 2015 terminou com o registro de 274 casos no Rio Grande do Sul, conforme a Polícia Civil. Em 2014, 1.100 sofreram violência sexual, número pouco inferior a 2013 (1.302) e 2012 (1.378).
Para a delegada Rosane de Oliveira, o que contribui para os números não baixarem é o fato de as mulheres estarem mais conscientes de seus direitos e procurarem a polícia logo nos primeiros casos de violência. Conforme ela, isso ajuda, por exemplo, para que casos como o estupro tenham diminuído.
“Acontece que as agressões são muito mais registradas. Hoje, as mulheres são menos tolerantes, têm outra atitude. Elas não aceitam mais um empurrão ou tapa. Elas sabem onde recorrer. Com isso podemos controlar melhor. Há uma queda nos delitos mais graves porque elas procuram a ajuda nos pequenos o que influencia para evitar casos mais graves. A partir da lei Maria da Penha se passou a dar palestras, a se conscientizar. Apenas 17% das mulheres hoje não tem conhecimento dos seus direitos. Isso é um percentual, mas é pequeno. As mulheres têm maior conhecimento”, comentou a policial.
Casos aumentam no verão
Se os números nos últimos anos têm tido uma queda, a proximidade com o verão deixa a Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam) em alerta. A Deam registra em média de 30 a 40 casos de violência. A delegada Rosane de Oliveira salienta que o número aumenta no verão. O maior consumo de álcool, segundo ela, é um causador desse crescimento.
“O álcool potencializa o que o indivíduo já tem. Se ele é muito brabo, tem muita raiva, o álcool potencializa esse sentimento. Ele deixa as coisas mais fáceis. Bêbado acha que pode tudo. O indivíduo pode até matar sob o efeito de álcool e achar que está tudo bem. Os homens consomem mais cerveja no verão. Eu faço a ligação em razão do consumo de álcool. Não tem nenhuma pesquisa sobre isso, mas é uma percepção nossa, de quem trabalha aqui”, afirmou.
A delegada salienta que as mulheres devem procurar a polícia sempre que o primeiro caso de violência ocorrer. “É importante sempre bater nessa tecla até porque a violência doméstica produz o marginal. Uma criança que é criada em um ambiente violento se torna um adulto violento. É um caminho natural. A polícia só enxuga gelo. Prende e solta. A mudança dessa criminalidade começa dentro da família. Na base, na educação. Se tratar a raiz, a gente consegue atingir um resultado em 10 ou 15 anos”.
(Correio do Povo)