O otimismo quanto à capacidade dos biocombustíveis de funcionar como fonte ecologicamente correta e de reduzir significativamente as emissões de CO² da Europa é exagerado, e a Alemanha deveria se concentrar no uso de energia solar e eólica para atingir suas metas de corte de emissões, além de investir mais em pesquisas sobre o uso do hidrogênio, a fonte “ideal”. Essas são as conclusões de um relatório elaborado pela Academia Nacional de Ciências Leopoldina da Alemanha, divulgado no início de agosto de 2012.
De acordo com o relatório, é difícil afirmar que os biocombustíveis sejam, de fato, uma fonte que reduz as emissões líquidas de gases causadores do efeito estufa e que não agride o meio ambiente, já que a preparação da biomassa para a geração de combustível envolve emissões, e a própria atividade agrícola pode causar danos ambientais, por meio de assoreamento, contaminação do solo e das águas.
“A agricultura intensiva, com a utilização de fertilizantes e com o impacto na biomassa do subsolo, por meio da aragem e da colheita, é quase sempre acompanhada de emissão de gases do efeito estufa”, lembra o relatório.
Exportando problemas
No caso de o biocombustível ser importado de outros países, o que ocorre, de acordo com os autores, é “a exportação das pressões ambientais da agricultura intensiva, a menos que se possa garantir” que a produção no país exportador é sustentável; que não afeta a segurança alimentar do país exportador; e que não causa dano ambiental, por exemplo, por meio da destruição de florestas.
No caso específico do território alemão, dizem os autores, o melhor seria concentrar esforços no desenvolvimento de fontes como energia solar e eólica, “cuja necessidade de área, emissão de gases e outros impactos ambientais são menores que os da bioenergia”.
Quando utilizados, os biocombustíveis deveriam ter como foco preferencial o abastecimento de veículos, e não aquecimento ou a geração elétrica. “A conversão de biomassa deve concentrar-se em biocombustíveis para veículos pesados, aviões e navios que, provavelmente também no futuro, não poderão usar eletricidade”.
A análise afirma ainda que são necessários mais estudos para que se possam avaliar as emissões de gases do efeito estufa relativas ao uso da terra — seja para agricultura, produção de carne ou de biocombustíveis. O uso de detritos urbanos e rurais para a produção de biogás merece estímulo, diz o relatório, “na perspectiva da destinação final dos resíduos”.
Hidrogênio
“O hidrogênio molecular é um portador de energia único e amigo do ambiente”, afirma o relatório. “Sua conversão em eletricidade ou calor produz apenas H2O, sem nenhum CO²”.
Atualmente, mais de 90% do hidrogênio usado em processos industriais no mundo vem de fontes fósseis, mas “uma economia baseada em hidrogênio vai requerer fontes renováveis, dispositivos adequados de armazenamento e transporte em larga escala e uma infraestrutura acessível”, escrevem os autores, reconhecendo, porém, que nenhuma das fontes renováveis de hidrogênio disponíveis hoje é capaz de competir economicamente com o hidrogênio extraído do gás natural.
O trabalho da academia alemã nota que, dada a disponibilidade “quase ilimitada” de água e radiação solar, a produção de hidrogênio, por meio da separação dos elementos presentes nas moléculas de água pela luz, poderá ser a fonte de energia ideal do futuro já que seria “renovável, amiga do ambiente e sustentável”.
“Portanto, sistemas naturais e artificiais de fotossíntese para a geração de hidrogênio são um foco atual e futuro de pesquisa básica”, diz o texto, que especula a respeito da criação de organismos geneticamente modificados ou catalisadores sintéticos capazes de separar a água em oxigênio e hidrogênio usando a luz do sol. “Trata-se de uma área de pesquisa com alto potencial de inovação que merece ser acompanhada”, dizem os alemães.
Inovação Unicamp