Quando se fala a combinação de palavras “toque” e “retal”, muitos homens fazem até careta com medo da possível experiência incômoda que o tal exame que ajuda a diagnosticar o câncer da próstata pode trazer. Mas, neste Dia do Homem, comemorado ontem (15), vale reforçar a importância de cuidar da saúde antes que a doença chegue.
As estimativas mostram que 60 mil casos novos de câncer de próstata surgem no Brasil por ano, mas, para o chefe de Oncologia Clínica do Centro Avançado de Oncologia do Hospital São José, Fernando Maluf, o número pode ser ainda maior. “Existem dados que mostram que um em cada seis brasileiros tem ou terá câncer de próstata ao longo da vida, mas este número pode ainda estar abaixo do real”, observa.
Segundo ele, o índice é alto e se equipara com alguns países da Europa e com os Estados Unidos, provavelmente em decorrência dos hábitos alimentares. “Já foi feita a relação da incidência da doença com dietas ricas em gordura de carne vermelha. Por outro lado, dietas compostas por vegetais e alimentos ricos em licopeno, como o tomate, são preventivas”, reforça Maluf.
O especialista ressalta que homem vive em média sete anos menos do que a mulher, o que pode ser explicado pela dificuldade de procurar um médico quando não estão com problemas de saúde, apenas por rotina. Por isso, o oncologista desmistifica o monstro que vive na cabeça de muitos homens com relação à esta experiência. “O toque retal dura apenas segundos. É um exame simples, praticamente indolor e muito pouco incômodo, feito com anestésico local. Na nossa visão médica, o medo é muito desproporcional em relação ao exame”, pontua.
De acordo com Ricardo Caponero, oncologista da Clínica de Oncologia Médica, a observação de sinais e sintomas deve existir sempre, independente da idade. “Crianças devem ser avaliadas em relação a sangramentos, manchas roxas (equimoses) e alteração na coloração da pupila dos olhos. Nos adultos, a observação de sintomas continua sendo importante, sem nenhum exame sendo necessário até o início da atividade sexual”. Confira abaixo mais informações sobre a doença e saiba como identificá-la precocemente, preservando uma vida com saúde e qualidade.
Detecção e sintomas
A importância da prevenção deste tipo de problema mora justamente na dificuldade de detecção – segundo os especialistas ouvidos, o início da doença é totalmente assintomático.
Os primeiros sinais começam a aparecer quando a doença já está avançada ou com metástases nos ossos, causando dor, segundo Caponero. “Eventualmente pode ser observada a presença de sangue no sêmen”, ressalta. Outros sintomas comuns são a dificuldade em urinar, sangue na urina, obstrução renal e aumento no número de micções.
De acordo com Maluf, o termo “prevenção” não é o mais adequado no caso do câncer de próstata, e sim, “rastreamento”, pois os exames ajudam a diagnosticar o problema e não prevenir. Daí a importância do acompanhamento: caso a doença seja identificada em estágio inicial e aliada ao tratamento adequado, as chances de cura são de quase 100% dos casos.
Os dois exames geralmente realizados no rastreamento são o toque retal e o PSA, recomendados anualmente ou a cada dois anos para homens a partir de 50 anos e a partir dos 40 para quem tem histórico familiar da doença ou negros, que, segundo Maluf “têm um câncer com características mais agressivas do que os brancos”. Segundo os especialistas ouvidos, são raros os casos antes dos 50 anos, e incidência maior acontece entre 60 a 65 anos.
Exame de toque, um tabu
Ambos os especialistas reiteram a importância e eficácia do exame de toque. “O exame de toque retal é importante e não deve ser abandonado a despeito do PSA, pois eles são complementares”, considera Maluf.
Caponero explica que ele pode ser feito na posição ginecológica, com o paciente deitado de lado com as pernas flexionadas sobre o tórax, ou, o que é mais apropriado, com o paciente com joelhos e cotovelos apoiados na mesa de exame. “Utiliza-se um lubrificante ou anestésico local e o médico introduz o dedo indicador através do ânus e avalia a próstata em busca de alterações de volume, simetria ou consistência”.
Embora pareça muito inconveniente, o oncologista afirma que o desconforto físico não é tão acentuado, “uma vez que as fezes normais têm espessura maior do que a de um dedo indicador”. E acrescenta: “o desconforto é mais psicológico e, por isso, para aliviá-lo, o mais importante é uma conversa franca sobre a importância e real necessidade do exame”.
Tratamentos e chances de cura
O tratamento para este tipo de câncer vai depender da idade do paciente, segundo explica Caponero. Além disso, são considerados aspectos como qualidade de vida e agressividade da doença. Os especialistas são unânimes em afirmar que as chances de cura estão completamente relacionadas ao diagnóstico precoce. Para os casos mais leves, o único tratamento indicado é a observação vigilante. “Em alguns casos, a doença é tão indolente que talvez consigamos postergar o tratamento”, explica Maluf.
Já os casos localizados são tratados por meio de cirurgia ou radioterapia e, por fim, os casos de doença mais avançada, quando ela evolui para o corpo e para os ossos, a orientação são os tratamentos hormonais. “Eles visam diminuir a produção de testosterona, que é o hormônio que alimenta o câncer”.
Vida sexual
De acordo com Maluf, tanto a cirurgia quanto a radioterapia podem impactar a fertilidade “porque uma das estruturas que armazena o líquido que compõe o esperma é retirada ou irradiada”. Para quem quer ser pai, existe a alternativa de colher o esperma antes de fazer a cirurgia ou de começar o tratamento.
Com relação à ereção, o oncologista aponta que pode haver a diminuição de 30% a 50%, ou a perda total em casos mais raros. “Mas vale lembrar que existem estratégias para tratar a disfunção sexual”, reforça.
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