Dom Adelar Baruffi
Bispo de Cruz Alta
No Dia de Finados, visitamos os túmulos onde estão sepultados nossos falecidos. É um dia de memória, saudade e esperança. Levamos flores. Elevamos a Deus uma prece de gratidão e intercessão por eles. É um rito carregado de sentido humano e espiritual. Nele estão concentradas nossa fé e nossa esperança na ressurreição.
“A quem iremos, Senhor?” (Jo 6,68)
Enquanto caminhamos neste mundo, com suas alegrias e cruzes, uma pergunta é inevitável: para aonde caminhamos? O que nos espera após a definitiva passagem pela morte? A fé cristã nos apresenta “a quem” iremos. Pedro disse a Jesus: “A quem iremos, Senhor? Só tu tens palavras de vida eterna.” (Jo 6, 68). Com Jesus Cristo, Ressurreição e Vida, caminhamos neste mundo. A Ele iremos quando passarmos desta vida para a vida eterna. Com Ele, acolhidos no seio da Trindade Santa, estaremos, na companhia de todos os justos! Já fazemos neste mundo a experiência da comunhão com Ele e com toda a criação, em nossas famílias e comunidades. Quando estivermos em Deus, a comunhão será plena. Dizia Santo Irineu: “a glória de Deus é o homem vivo, e a vida do homem é a visão de Deus.” (Tratado contra as heresias, 4, 20).
Nada de nossa vida se perderá. Seria muito insensato imaginar que tudo o que vivemos, o bem que fizemos, as pessoas que amamos, tudo isto acabasse no nada! Não, a Sagrada Escritura e, sobretudo, a pregação de Jesus nos mostram que nosso Deus dá vida nova, vida eterna, àquele que está morto. Ele já provou isto ressuscitando Jesus, o crucificado. Então, diz Paulo, “como podem alguns dentre vós dizer que não há ressurreição dos mortos? […] Cristo ressuscitou dos mortos, primícias dos que adormeceram (1Cor 15,12.20). Como a criação, também a nossa ressurreição é obra de Deus, de sua graça.Ninguém dá a vida a si mesmo, como também ninguém ressuscita por si mesmo, pelas suas forças ou por seus méritos. É pura graça de Deus, que ao nos criar nos quer felizes para sempre.
O que significa ressuscitar?
A ressurreição não é voltar à vida terrestre. Ressurreição significa ressurgir da morte para a vida eterna. Não é a revitalização do cadáver que colocamos no túmulo. Jesus fez reviver a filha de Jairo, o filho da viúva de Naim e Lázaro, personagens do Evangelho. Estes voltaram à vida, no espaço e tempo, depois de mortos, mas retornaram a morrer. A ressurreição é algo muito maior, que nossos sentidos e nossa razão não conseguem compreender. Ao olharmos para Jesus ressuscitado podemos ter uma ideia do que é ressuscitar. Pela ressurreição, Jesus, com sua humanidade, foi restituído à vida gloriosa, plena e imortal de Deus. Seu corpo se transfigurou, tornou-se como diz São Paulo, um corpo “espiritual” (1Cor 15,44). Jesus não retorna a esta vida, mas entra definitivamente na “vida de Deus”. Uma bela oração que é rezada na missa pelos falecidos diz assim: “Senhor, para os que creem em vós, a vida não é tirada, mas transformada. E, desfeito nosso corpo mortal, nos é dado, nos céus, um corpo imperecível.”
Enfim, a ressurreição dá um sentido para a vida e para a morte.Sabemos que o viver comporta o morrer um dia. A partir de nossa fé na ressurreição, abre-se para nós uma grande esperança. A morte não é o fim. A morte é uma passagem para a vida plena e eterna. Dizia Santa Teresa de Jesus: “quero ver a Deus, e para vê-lo é preciso morrer” (Vida, 1). Vivemos na fé e na esperança o que um dia veremos plenamente. Com nossas boas ações antecipamos, em sinais, o que esperamos ser pleno no “dia sem fim”.
