O conclave que irá eleger o sucessor de Bento XVI começará na próxima terça, dia 12 de março. A informação foi divulgada nesta sexta pelo Vaticano em um comunicado.
Do latim “com chave”, o conclave é fechado. Dele, participarão apenas 115 cardeais, que têm menos de 80 anos. Eles ficarão reunidos até a eleição do novo Papa. A votação terá início imediatamente depois que todos os cardeais eleitores – os que têm menos de 80 anos – entrarem na Capela Sistina, no Vaticano, local tradicional para a definição dos sucessores.
O conclave terá início com uma missa votiva “Pro elegendo papa”, após a qual os cardeais se dirigirão em procissão até o local da eleição, cantando o “Veni Crator” para invocar a ajuda do Espírito Santo. Além disso, o mestre de cerimônias pronuncia o “Extra omnes!” (“Fora todos!”, ordenando que aqueles que não tenham a ver com a eleição saiam do recinto). As portas se fecham e os religiosos ficam sob a proteção da Guarda Suíça.
O voto no conclave é manual e individual. Os cardeais escrevem à mão, em um papel retangular, o nome do escolhido, e são orientados a disfarçar a letra. O papel é dobrado duas vezes e depositado em urna que fica no altar.
Caso ninguém seja apontado por ao menos dois terços dos membros votantes do colégio cardinalício (77 votos), nos dias seguintes ocorrem duas eleições de manhã e outras duas à tarde. Ao fim de cada votação, as cédulas são queimadas em um forno, que é colocado na capela, e a indicação é a fumaça. A fumaça escura é sinal de que não foi escolhido o Papa. Se a fumaça for branca, significa que já há um pontífice.
Nos três últimos conclaves (dois em 1978 e outro em 2005), para desespero dos jornalistas, o sistema não funcionou corretamente e a fumaça que deveria ser branca apareceu como cinza. Na última destas ocasiões foi incorporada uma estufa auxiliar com o objetivo de queimar produtos químicos que tingissem claramente a fumaça da cor correta, embora tampouco tenha funcionado.
Isolamento total
Os cardeais são mantidos em total isolamento do mundo exterior: não podem usar telefone, receber jornais, ver televisão ou ter acesso à internet. Nem tradutores são admitidos. O Vaticano ordenou inclusive uma limpeza eletrônica para detectar qualquer possível mecanismo transmissor ou receptor camuflado no âmbito da clausura e colocou um aparelho que restringe os sinais de rádio dentro da Capela Sistina e nas áreas próximas a ela.
Após três dias de votações sem resultado, ocorre uma suspensão de um dia para uma “pausa de oração”. Em seguida, eleição volta a ser realizada e, se ainda assim o pontífice não for escolhido, será efetuado outro intervalo, seguido por sete tentativas.
No conclave para escolher quem substituirá Bento XVI serão necessários os dois terços dos votos em todas as eventuais votações, sejam quantas forem. Também foi estabelecido que, caso se chegue à etapa de escolha entre os dois mais votados, os finalistas não poderão mais votar, como era admitido.
Uma vez escolhido, o eleito diz se aceita e o nome que deseja usar. Ele é reverenciado por cada um dos participantes do encontro. O último ato do conclave é a pergunta que três cardeais fazem ao eleito: “Aceita sua eleição como Sumo Pontífice?”. Após a resposta afirmativa, segue outra pergunta, “Quo nomine vis vocari?” (“Como quer ser chamado?”).
Depois de ser parabenizado pelos cardeais, o sucessor do Papa alemão, que poderá escolher livremente seu nome, se dirigirá a uma pequena sala contígua onde o esperam três hábitos papais (de tamanhos pequeno, médio e grande) para se vestir. Costuma ser chamada de “Sala das Lágrimas”, já que parece que todos os eleitos, sem exceção, choram ali em relativa intimidade diante da magnitude da responsabilidade que acabam de assumir.
O anúncio oficial é feito pelo chamado cardeal emérito – o mais antigo entre os presentes. O cardeal anuncia: “Habemus papam”, que em latim significa “temos Papa”. O novo pontífice aparece na varanda da Basílica de São Pedro.
Um conclave podia durar semanas, ou até mesmo meses até as primeiras décadas do século XIX. Mas desde então foram drasticamente encurtados e os cardeais que participam deles precisaram apenas de um a quatro dias para eleger um novo Papa.
Duração dos conclaves nos últimos dois séculos:
2005 – Bento XVI (dois dias)
1978 – João Paulo II 1978 (dois dias)
1978 – João Paulo I (um dia)
1963 – Paulo VI 1963 (três dias)
1958 – João XXIII (três dias)
1939 – Pio XII (um dia)
1922 – Pio XI (quatro dias)
1914 – Bento XV (três dias)
1903 – Pio X 1(quatro dias)
1878 – Leão XIII (um dia e meio)
1846 – Pio IX (menos de dois dias)
1831 – Gregório XVI (54 dias)
1829 – Pio VIII (mais de um mês)
1823 – Leão XII (26 dias)
1799 – 1800 – Pio VII (três meses e meio)
Correio do Povo