O chargista Marco Aurélio Campos de Carvalho confirmou – em rápida entrevista ontem (4) ao saite Coletiva. seu afastamento de Zero Hora, após a publicação da charge alusiva às vítimas da tragédia em Santa Maria.
A charge polêmica retrata uma longa fila de estudantes mortos, postados diante de um prédio identificado como “USP – Universidade de São Pedro”.
Da porta, o próprio São Pedro recebe e direciona os jovens conforme a especialidade: arquitetos, sala 5 com Niemeyer; gente da pedagogia, com Gilberto Freyre; medicina, sala 7 com Zerbini – e assim por diante.
“Toda a direção viu minha charge, mas só eu estou no refrigerador”, desabafou, acrescentando que teve a defesa negada pelo Grupo RBS. “Até quem comete uma injustiça tem o direito de se defender. A RBS me negou esse direito”, afirmou.
Marco Aurélio disse que o objetivo da charge era ser solidário aos familiares das vítimas. “Charge funciona assim, demonstra o momento. Não poderia chegar ali e falar sobre o sexo dos anjos. Era uma forma de apoio aos pais. Tem até uma menina dizendo ‘mãe, estou bem’”, explicou.
Com cerca de 45 anos de Zero Hora, esta não é a primeira vez em que os desenhos causaram polêmica. Ele estima que tenha publicado mais de 60 mil charges, que já lhe renderam muitos processos.
Lembra que, certa vez, o desentendimento foi com os torcedores do Internacional. “Tinha metade do Rio Grande do Sul contra mim, mas o Maurício (Sirotsky Sobrinho, fundador do Grupo RBS) me disse: ‘vai na TV e te defende’”, recorda, ao contar que no caso de Santa Maria não teve essa oportunidade.
“O Nelson (Sirotsky) me disse: ‘tira férias comigo e quando eu voltar a gente fala sobre isso. Vai ser melhor para a empresa e vai ser melhor para ti’”.
Sem a oportunidade de se explicar, o desenhista diz que chegou a pedir ao colunista Paulo Sant’Ana a reprodução de um trecho do texto ‘Santa Maria: poesia incompreendida do chargista Marco Aurélio’, de Luis Nassif, como forma de levar aos leitores uma melhor compreensão da charge.
Leia o texto do jornalista Luis Nassif
“Santa Maria: poesia incompreendida do chargista Marco Aurélio
Cheguei agora do Ó do Borogodó. Ao ver os universitários chegando, as mocinhas de shorts curtos, os rapazes de bermudão, veio à mente a foto dos meninos de Santa Maria, estendidos no chão, como se dormissem.
Bateu uma tristeza imensa, a mesma que o país sentiu nesses dias trágicos.
Evitei escrever sobre o tema. Catarses, acusações, lamentos, politização, tudo soaria ou oportunístico ou piegas, em relação à dimensão da tragédia. Amaldiçoados sejam os oportunistas de todas as cores que politizaram o episódio”.
(Espaço Vital)