No dia em que vai à votação a aprovação do relatório que pode dar início a um processo de cassação contra Clayton Pereira (SDD), o Grupo Gazeta teve acesso à denúncia protocolada pelo vereador no Ministério Público na última sexta-feira (dia 29), na qual revela possível episódio de corrupção envolvendo o prefeito Milton Schmitz e o vereador da base do governo Gian Pedroso (PSB).
De acordo com a denúncia, o prefeito teria ofertado benefícios ao vereador Gian, como a nomeação da sua namorada em cargo de confiança, para que este votasse de forma favorável ao encaminhamento do processo ético contra o vereador de oposição Clayton, para cassação no Conselho de Ética.
Gian Pedroso faz parte do referido Conselho de Ética, ao lado dos vereadores Márcio Hoppen (PMDB), Tenente Costa (PP), João Pedro Albuquerque de Azevedo (PSDB) e Anselmo Britzke (PDT).
No dia da votação do relatório no Conselho (sexta-feira, dia 22), os cinco componentes reuniram-se pela manhã, onde os vereadores Tenente Costa e Márcio Hoppen manifestaram-se de forma favorável à cassação, enquanto os vereadores João Pedro e Anselmo votaram pela advertência em plenário e restituição do valor de R$ 84,50 que consideraram como pagos irregularmente.
Segundo a denúncia, faltando apenas o seu voto, o vereador Gian teria recebido uma mensagem durante a reunião e alegou que teria um compromisso e pediu para adiar o momento do seu voto, ficando suspensa a reunião até o início da tarde.
Naquele momento Gian possuía o voto de minerva. Se votasse pela advertência, Clayton seria advertido em plenário e teria o processo encerrado com essa pena. Como votou pelo encaminhamento para início do processo de cassação, o relatório será levado a plenário, hoje à noite, para aprovação pelos demais vereadores.
Refere a denúncia que ”o compromisso do vereador Gian Pedroso era na verdade uma reunião com o prefeito municipal, para a compra do seu voto de minerva pela cassação do mandato do seu maior oposicionista. O vereador Gian Pedroso requereu a nomeação de sua namorada Amanda Taetti dos Santos para um cargo comissionado na Prefeitura Municipal de Carazinho em troca do voto de minerva em favor da cassação […]”.
Ainda, registra que ”imediatamente após o encerramento dos trabalhos do Conselho de Ética, o nome da namorada do vereador Gian Pedroso foi incluído na folha de pagamento do ente público chefiado pelo Prefeito Milton” Amanda, que atuava como estagiária e recebendo bolsa-auxílio de R$ 600,00 mensais, foi nomeada como Assessora de Direção da Secretaria de Desenvolvimento, com salário de R$ 1.500,00, conforme o denunciante. Relata, também, que Amanda, apesar de nomeada para o novo cargo, seguiu exercendo a mesma função de estagiária junto ao Departamento Jurídico da Prefeitura, porém com o significativo aumento salarial.
Nossa reportagem entrou em contato com a secretaria de desenvolvimento a qual fomos informados que não houve nos últimos dias a chegada de novos funcionários, contudo a funcionária que exercia a função de assessora de direção não estava mais no cargo há pelo menos uma semana. Já o departamento jurídico confirmou que Amanda continua atuando no departamento durante manhã e tarde.
Constam na denúncia dois documentos do dia 22 de setembro, data da reunião do Conselho, um emitido pela manhã, sem o nome de Amanda, e outro pela tarde, com o nome da namorada do vereador Gian já inserido na relação de funcionários vinculados à Secretaria de Desenvolvimento e Mobilidade Urbana.
Foram apresentados vídeos e imagens que comprovariam a suposta reunião de acerto do voto do vereador Gian, que teria sido realizada no Restaurante do Baixinho, no intervalo da reunião do Conselho de Ética. Teriam feito parte da reunião, também, o vereador Márcio Hoppen e o Assessor Jurídico do Governo Antônio Azir.
O denunciante juntou, ainda, uma gravação de um telefonema recebido do vereador Gian Pedroso logo após a reunião no Restaurante do Baixinho.
Por fim, o denunciante pede a investigação do Prefeito Milton Schmitz por possível corrupção ativa e improbidade administrativa, do vereador Gian Pedroso por corrupção passiva e do Assessor Jurídico Antonio Azir, a quem atribui responsabilidade de ter arquitetado o crime e permitido a namorada de Gian permanecer trabalhando irregularmente no seu setor.
Em contato com o Ministério Público, a denúncia deve ser encaminhada esta semana para a Procuradoria dos Prefeitos em Porto Alegre, onde terá todo seu trâmite.
Procuramos no inicio da tarde o prefeito Milton Schmitz para falar sobre o assunto. Questionado pelo nosso repórter, o prefeito disse que ”compra de voto não é de seu feitio”. Além disso o prefeito afirmou que NÃO ESTEVE REUNIDO COM O VEREADOR GIAN PEDROSO. Milton ainda falou que a câmara tem total autonomia em suas decisões
O vereador Gian Pedroso também foi procurado pela nossa reportagem, contudo não atendeu ao telefone. Via whatsapp o vereador disse que estava de reunião e não poderia falar no momento.
Em contato com o líder de governo e presidente do conselho de ética, o vereador Márcio Hoppen, afirmou que esteve reunido com o prefeito e o deputado Vilmar Zanchin na referida data na qual almoçaram juntos, porém sem a presença do vereador Gian Pedroso.
Gravação do telefonema de Gian Pedroso:
O áudio que consta na denúncia se refere a um telefonema realizado pelo vereador Gian Pedroso a Clayton Pereira após a reunião com o prefeito que teria definido o seu voto a favor da cassação.
Gian afirma que ”tentou”, dando a entender que teria tentado acertar uma punição menos severa a Clayton no Conselho de Ética, mas que o problema não era ele.
Veja trechos do referido áudio:
”Seguinte, eu vou falar, eu nem devia tá falando contigo, mas eu vou falar três palavras. Sei que tu vai ficar me odiando pelo resto da vida, mas não tem problema. Eu tentei viu. Eu te falei que o problema não era eu”. […] ”Eu tentei, mas o problema a partir de agora não é comigo. Tu tem chance e tu vai ter que correr atrás. Tu tem como, só que vai ser mais trabalhoso. Mas o problema não é eu. Tu tem que se preocupar com mais gente. E não é mais o Gauchinho também.” […] ”Fica tranquilo que mal não quero de você e nem tudo tá perdido”.
(Rádio Gazeta)
