Indicadores desse tipo de crime, em Carazinho, mostram que nos últimos seis anos, a média histórica é de pelo menos um caso ao ano
Nos últimos seis anos, Carazinho vem mantendo a média histórica nos casos de feminicídios. De 2012 a 2018, conforme dados da Secretaria Estadual de Segurança Pública (SSP) e da Delegacia de Polícia (DP) do município, ao menos um registro consumado ou tentado ocorre a cada ano na cidade. A análise é da delegada Rita Felber De Carli:
– Não é um número grande de registros, mas ao menos uma tentativa ou um caso consumado é registrado todos os anos em Carazinho, considerando os dados de 2012 até o ano passado. É difícil afirmar se esse número é alto ou baixo, pois não tenho dados para comparar com outras cidades do mesmo porte ou com os registros no Estado. O que gostaríamos é que não houvesse nenhum registro – afirma a delegada.
Conforme os números da SSP e da DP de Carazinho, o ano com maior quantidade de registros na cidade foi 2012, quando houveram quatro mortes de mulheres. Na ocasião, ainda não existia a tipificação de feminicídio que foi criada através de uma lei aprovada em 2015. Na sequência, também se destacam os anos de 2014, quando foram registradas três tentativas e um feminicídio consumado, e 2016, ano em que ocorrer duas tentativas e dois casos consumados. No ano passado, foi registrado um feminicídio no município, quando a jovem Clara Rodrigues, de 16 anos, foi morta dentro de sua casa a facadas, no dia 21 de junho.
Crime se destaca pela crueldade
A morte de Clara chamou a atenção na época pela crueldade, e ainda hoje causa comoção. A estudante do ensino médio sofreu múltiplas fraturas e foi atingida por diversos golpes de faca. Esse tipo de conduta do criminoso, na avaliação da delegada Rita, é o padrão nos casos de feminicídio que foram registrados na cidade.
– Na grande maioria dos casos, a vítima ou vítimas, sofreram muita violência. Para esse tipo de crime, a faca é a arma mais utilizada pelos autores, que por si só, já caracteriza um crime violento. Além disso, há casos em que a violência é praticada na frente de crianças – relata Rita.
Ainda conforme a autoridade policial, dos casos registrados até 2018 em Carazinho, a maioria dos autores foi um homem que possuía relacionamento com a vítima e o crime aconteceu dentro da residência da vítima. “Marido, companheiro ou namorado, via de regra, são os autores mais recorrentes desse tipo de crime. Além disso, outro fator característico de feminicídios é que eles ocorrem dentro da residência ou no local de convivência da vítima e do agressor, justamente por ser um crime doméstico. Nos últimos seis anos, tivemos apenas um registro de feminicídio que aconteceu dentro de um veículo – informa a delegada. Todos os casos registrados na cidade de 2012 a 2018, já tiveram as investigações concluídas e os inquéritos remetidos ao Poder Judiciário.
Como proceder em caso de violência
Na semana passada, a nova chefe de polícia do RS, Nadine Anflor, durante a cerimônia de posse, destacou que um dos focos de atuação da Polícia Civil gaúcha durante sua gestão será, justamente, combater os crimes de violência contra a mulher. Nesse sentido, a delegada carazinhense, Rita, orienta aquelas mulheres que são vítimas.
– A principal dica para essas pessoas é que elas registrem os casos e que procurem a Polícia Civil, mesmo que o nível de violência não seja grave ou acentuado. Porque na violência doméstica se percebe um histórico de atos de agressão e a tendência é que eles aumentem cada vez mais ou se tornem mais repetitivos. Por isso, as vítimas precisam procurar recursos e não deixar que esse tipo de situação chegue em um nível que possa acabar em homicídio. Nesse sentido, nós estamos atuando com o Núcleo de Mediação do Posto Policial da Mulher, para criar um espaço de diálogo com as partes, para tentar buscar com os envolvidos uma solução. Mas, isso, claro, nos casos possíveis, pois quando percebemos casos graves, procuramos dar um encaminhamento, comunicar o Ministério Público ou a Assistência Social. Em qualquer situação, procuramos agir para evitar que algo mais grave venha a acontecer – conclui a delegada Rita Felber De Carli.