Carazinho fecha 2018 com saldo positivo nas contratações

Postado em 10 janeiro 2019 10:02 por JEAcontece
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Especialistas avaliam comportamento do mercado de trabalho carazinhense no último ano. Com base em série histórica do Caged, em dez anos, a relação entre contratações e demissões sofreu poucas alterações. Admissões ainda esbarram na falta de qualificação

O saldo final da empregabilidade no mercado de trabalho carazinhense em 2018 manteve-se positivo. De janeiro a novembro, conforme dados divulgados pelo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), na relação entre admissões (51,79%) e demissões (48,21%), a variação chegou a 326 contratações a mais do que desligamentos. Os meses de março e outubro apresentaram os melhores índices, com as contratações sobressaindo-se em 171 e 83 vagas, respectivamente, frente aos desligamentos. Os piores resultados, no entanto, foram observados nos meses de maio e junho, quando a variação das demissões, somadas, chegou a 208 postos de trabalho (conforme tabela).

De modo geral, apesar de tímido, o crescimento é visto com bons olhos pelo empresário Cassiano Scheibe Vailatti, que preside a Associação Comercial e Industrial de Carazinho (Acic). Segundo ele, considerando o contexto econômico e político do país, a variação é significativa. “Em se tratando do momento pelo qual nosso país está passando, mesmo que modesta, esta variação é importante e significativa, visto que demonstra uma certa recuperação do setor econômico, pois sempre que as empresas investem na contratação de mão de obra é sinal de que o mercado tende a crescer. Estes números certamente demonstram um otimismo, ainda que cauteloso, por parte dos investidores”, avalia.

Nesse contexto, no decorrer de 2018, pairou sob a economia brasileira o efeito da da greve dos caminhoneiros iniciada em maio. O movimento mais significativo da categoria que pedia ao governo redução da carga tributária sobre o diesel (PIS/Cofins) provocou o desabastecimento de diversos setores. O efeito cascata trouxe pessimismo aos indicadores econômicos, derrubando até as projeções econômicas realizadas em janeiro de 2018, quando especialistas afirmavam que o país fecharia o ano com crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), a soma de todas as riquezas produzidas, em cerca de 2,70%. Em dezembro, após avaliar os resultados da greve, essa projeção despencou para 1,30%. O resultado real será divulgado somente em março de 2019.

Além disso, diante de um processo eleitoral fortemente marcado pela incerteza, o empresariado, cauteloso, segurou os investimentos. Na outra ponta, o desemprego alcançou 12,2 milhões de brasileiros, com taxa de desocupação em 11,6%, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Uma década de análise
Na série histórica do Caged, em se tratando de Carazinho, ao comparar o mercado de trabalho de 2018 com o de 2008, há dez anos, o saldo de empregabilidade era mais favorável. Naquele ano, na capital da hospitalidade 5.418 pessoas entraram para o mercado de trabalho, enquanto 4.689 deixaram seus postos, uma variação positiva de 729 vagas e cerca de 44% superior a de 2018.

Ao analisar os dados, o professor da Universidade de Passo Fundo (UPF), Hélio Büllau, mestre e especialista em administração, cita que o número revela certa preocupação, sobretudo com o setor da indústria.

– Me parece que o principal aspecto é a questão industrial. A agricultura do município segue sua vocação, com os naturais incrementos de produtividade. O comércio e a prestação de serviços são atividades de suporte à população local e são totalmente dependentes dos demais setores. Tivemos algum incremento nas atividades de logística, que, tipicamente, são pouco geradoras de empregos. Porém, se olharmos o quadro de indústrias nos últimos dez anos, a mudança certamente foi pequena – pontua.

Em 2016, a série do Caged mostrou que o município vivenciou um dos piores anos para a geração de empregos, com variável negativa de 485 demissões a mais do que as admissões. Na visão do presidente da Acic, a forte crise econômica na época foi a principal causa das demissões. “Se observarmos os números de 2008, podemos perceber que havia um crescimento do nível de emprego em nossa cidade, o que não ocorreu no ano de 2016, quando estávamos no auge das dificuldades econômicas que assolavam o Brasil. Por isso, entendo que se conseguimos manter o índice nestes últimos anos é porque tivemos, sem dúvida, um certo sucesso. Isso tem relação com o trabalho desenvolvido pelo governo municipal através da Secretaria de Desenvolvimento, que tem dado fundamental atenção a essa questão”, afirma Vailatti.

População em busca de trabalho
Segundo o IBGE, a população de Carazinho passou de 62.339 habitantes, em 2017, para 61.949 em 2018, uma redução estimada em torno de 1,7%. Tendo em vista o contexto de geração de empregos no município, a falta de novas vagas pode ser uma das principais motivações para essa diminuição populacional.

– Percebemos que os jovens que terminam sua faculdade, em parte, mudam para capital e outras cidades de grande porte em busca de melhores oportunidades. Já os trabalhadores sem qualificação vão em busca de trabalho nas empresas de produção, como os frigoríficos nas cidades vizinhas, se mudando para esses locais principalmente pela falta de transporte – analisa a coordenadora da Agência FGTAS/Sine de Carazinho, Cleonice Magalhães. Para Vailatti, a relação entre a diminuição na população e a falta de vagas de trabalho não é um problema atual. “Este é um diagnóstico já feito pelos nossos líderes locais”, resume.

Falta qualificação
Dentro de um cenário com poucas oportunidades, a qualificação profissional entre aqueles que almejam posição no mercado de trabalho tornou-se o grande diferencial. Ao fazer um diagnóstico da parcela de desempregados que procura trabalho no Sine, a coordenadora do órgão não tem dúvida: muitas contratações esbarram na falta de qualificação.
– Em nosso dia a dia, aqui no Sine, percebemos que muitas pessoas não tem nem o ensino fundamental completo. No nosso entendimento, essa qualificação é o mínimo que as empresas exigem dos candidatos no ato da contratação – destaca.

Já o especialista em administração, Hélio Büllau, acredita que a questão ainda precisa ser melhor assimilada tanto por aqueles que procuram trabalho quanto por quem oferta as vagas. “Vivemos uma contradição que tende a se acentuar: o número de desempregados é alto, mas qualquer empresa que precise preencher uma vaga vai encontrar dificuldades. Temos problemas de qualificação, sim, mas também temos problemas de postura profissional. Não estamos mais numa era de mudanças e, sim, numa mudança de era, que está trazendo sérios impactos para o mercado de trabalho como um todo. É um novo tema, ainda pouco entendido e bastante complexo”, acrescenta.

Caminhos possíveis
Na busca por apontar caminhos para o crescimento econômico do município e que possam refletir na geração de empregos, Vailatti sugere que fomentar a vinda de negócios e empresas para o município é uma alternativa viável. Ao mesmo tempo, ele cita que deve ser constante o apoio do poder público para com as empresas que já estão instaladas na cidade. Além disso, Vailatti acredita que “é importante mantermos um olhar atento aos nossos distritos industriais, os quais devem ser a vitrine da nossa cidade”, argumenta.

Por fim, o empresário faz um chamamento aos consumidores. “Penso que o consumidor também pode ajudar nesta conta, comprando e consumindo de empresas locais, fortalecendo o mercado de Carazinho, evitando que a arrecadação e as vagas de emprego se desloquem para outras localidades. É preciso desenvolver esta cultura, visto que temos um comércio forte e bastante diversificado, que deve ser prestigiado. Como não somos uma cidade turística, e desta forma não recebemos muitos visitantes, é necessário que o consumo interno seja forte. Carazinhense deve comprar em Carazinho”, salienta.

Para o administrador Hélio Büllau, no entanto, a questão é mais ampla do que atrair novas indústrias ao município. “Não podemos apenas sonhar em atrair indústrias, precisamos desenvolver indústrias. E isso passa pelo desenvolvimento de uma cultura de empreendedorismo industrial, algo que é bem mais complexo. E como já estamos começando a vivenciar os conceitos da indústria 4.0, essa discussão se torna ainda mais ampla. Afinal, o que é viável empreender hoje em termos industriais”, questiona o especialista.

Postado em 10 janeiro 2019 10:02 por JEAcontece
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