Candidatos únicos em 113 cidades aliam até PT e PSDB

Postado em 23 julho 2012 07:46 por JEAcontece
15.292.411/0001-75

Os moradores de aproximadamente 2% dos munícipios brasileiros já sabem quem deverá ser o próximo prefeito de sua cidade. Não se trata de nenhum exercício de vidência. Das 5.568 cidades que terão eleições neste ano, 113 terão apenas um candidato à prefeitura. Nestes locais os partidos se uniram em torno de um nome, gerando coligações extremas como o PT e o PSDB no mesmo palanque. O levantamento foi feito com base nas informações preliminares do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

São cidades de todas as regiões do País. Com população que varia de 1 mil a 30 mil habitantes, esses municípios fogem da média de candidato/vaga no restante do País: 2,7, segundo o TSE. Pode até ser estranho, mais uma eleição sem adversários é considerada normal. “Não há vedação em casos assim. É uma eleição normal, como outra qualquer”, afirma a assessoria do Tribunal.

Os maiores colégios eleitorais são os que mais trazem esse “fenômeno”: em Minas Gerais, são 21 casos, enquanto Rio Grande do Sul e Paraná somam 19 munícipios cada um. Os candidatos “solitários” ainda aprecem em 18 cidades paulistas. Isso também acontece em menor frequência em Santa Catarina (8), Rio Grande do Norte (4), Piauí (4), Paraíba (5), Mato Grosso (4), Mato Grosso do Sul (3) e Bahia (3). Tocantins, Pará, Goiás, Rondônia e Alagoas têm apenas um caso em cada Estado.

Empresários e agricultores são a maioria entre quem já está com um pé nos gabinetes. Embora alguns tenham o ensino fundamental incompleto, há milionários na lista, como Beto Vizzoto (PT), candidato em Paraíso do Norte, cidade paranaense de menos de 12 mil habitantes. Ele possui um patrimônio digno de um político na capital: R$ 8 milhões em bens. É no Paraná também que Gisele Faccin (DEM), de 28 anos, tentará (sozinha) chegar à prefeitura de Presidente Castelo Branco, de quase 5 mil habitantes, pela primeira vez.

Há muitos que tentam a reeleição, como é o caso de Ederildo “Paparico” Bachi (PDT) em São João da Urtiga, munícipio gaúcho de 4,7 mil habitantes. Ele se elegeu em 2008, ganhou de seu adversário e começa agora a campanha para a reeleição – desta vez, sem a oposição. Paparico atrela ao “sucesso de sua gestão” o fato da oposição ter abandonado a ideia de lançar candidato na cidade. “Já houve uma eleição em que os militantes fechavam as ruas. Até o exército interviu na cidade. Hoje conseguimos equilibrar isso. Respeitamos a oposição. É um clima bom”, afirma.

Todos por um
Talvez só nessas cidades os nomes das coligações, como “Todos por Jardinópolis (SP)” ou “Todos Unidos por União” (União de Minas/MG), façam realmente sentido. O clima de união é o que move as candidaturas solitárias, segundo os próprios pleiteantes ouvidos pelo Terra.

O município de Abdon Batista, no oeste de Santa Catarina, tem menos de 3 mil habitantes e apenas um candidato: Lucimar Antônio Salmoria (PMDB), com o apoio do PT, PSDB, PP e PSD (nome da coligação? “Todos por Abdon”). Em entrevista ao Terra, o prefeito e correligionário Antônio Zanchett disse que o seu candidato tem “bom relacionamento” com todos os diretórios. Já Salmoria afirma que ser “aclamado” o novo prefeito é muita responsabilidade. “Essa é uma cidade pequena onde existia muita rivalidade política. É um privilégio ser a pessoa que conseguiu ser o elo e reunir todos os grupos”, afirmou.

Em cidades consideradas pacatas e pequenas, o importante é manter a unidade, segundo o empresário Tony Lacerda, que concorre pela prefeitura de São José da Safira, em Minas Gerais. “Lideranças, de todos os segmentos, precisavam de um nome que mantivesse a unidade por aqui”, explica o candidato único no município de 4 mil habitantes. Lacerda afirma que o fato de ser o único na disputa não significa desinteresse político dos moradores. “A falta de adversários, no nosso entender, é um fator positivo para a campanha eleitoral porque demonstra que os grupos políticos da cidade estão unidos em torno de um projeto maior”, observa.

Basta um voto
Embora não haja preocupação com ataques de adversários, os candidatos negam o clima de “já ganhou”. “Não é por isso que os eleitores não terão opção de escolha. Ainda há o branco e o nulo”, afirma Sebastião Del Piccolo, candidato do PSD em Jeriquara, cidade paulista de 3 mil habitantes, na região de Ribeirão Preto, a 372 km de São Paulo. Em Mirassolândia (SP), com 4 mil habitantes, a professora Terezinha Rodrigues Lima (PCdoB) traz uma grande aliança em torno de sua candidatura: PDT, PTB, PMDB, PTN, PPS, DEM, PSDB e PSB. “Não tem essa coisa de já ganhou. Tem ainda os votos brancos e nulos. Tenho uma campanha de dois meses pela frente”, explica.

Entretanto, esses candidatos não têm o que temer. Votos brancos e nulos não ameaçam a eleição dos candidatos, desde que recebam pelo menos um voto válido. Se em uma cidade todos os moradores anularem seus votos, mas o candidato votar nele mesmo, ele ganha a eleição – serão 100% de votos válidos. Só perde se não receber nenhum voto ou se a nulidade atingir mais da metade dos votos – nulidade esta que não se refere a brancos e nulos, mas sim àqueles que a Justiça Eleitoral anula. São votos dados a um candidato que comprou votos ou abusou da máquina pública, por exemplo.

PT e PSDB de braços dados
Das 113 cidades com apenas um candidato, 44 trazem na coligação dois antagonistas históricos, PT e PSDB – ambos na maior harmonia, em prol do mesmo pleiteante. É o caso de Jeriquara (SP). A escolha de apenas um nome – e a inevitável união das legendas – deve-se ao clima político tranquilo. “Aqui são poucas as intrigas políticas. As pessoas dizem: nossa, o PSDB se coligando com o PT, e a briga do Lula com o Serra? Mas aqui não existe essa coisa partidária. A gente se respeita”, explica a presidente do diretório do PSDB na cidade, vereadora Cíntia de Paula Costa.

O fato de nunca ter tido um cargo político o ajudou, explica o candidato único da cidade, Sebastião Del Piccolo. “Tenho apoio de todos, com consenso geral. Tenho 34 anos de serviço público e nunca fui candidato a nada. Não foi por falta de nomes, cada um dos partidos tem nomes relevantes, mas eles já foram candidatos, eu nunca fui”, afirma.

Não é a toa que Belo Horizonte, até pouquíssimo tempo, contava com PT e PSDB juntos em torno da candidatura de Márcio Lacerda (PSB) na capital. Minas Gerais é o Estado onde há mais casos como este – são 10 cidades com os dois partidos unidos na coligação. Em Santa Catarina, das oito cidades que terão apenas um candidato, apenas duas não trazem o PSDB e o PT unidos.

Em Mirassolândia, Terezinha lamenta não contar com o PT na sua chapa. “Meu vice é do PSDB, por isso eles não estão com a gente. Eles queriam, mas alguém do partido do diretório estadual pediu para que eles não entrassem na coligação. Eles são nossos amigos. Quero eles comigo”, afirmou. Tony Lacerda argumenta que o papel nacional da oposição ganha outras motivações em uma cidade pequena. “Não há nada demais em partidos adversários nacionalmente como PSDB e PT somarem esforços em seus núcleos municipais para trazer uma governação mais equilibrada”, explica o candidato de São José da Safira (MG).

Terra

Postado em 23 julho 2012 07:46 por JEAcontece
15.292.411/0001-75
TAPERA TEMPO

Desenvolvido com 💜 por Life is a Loop