A economia brasileira cresceu 2,3% em 2013 em relação ao ano anterior, totalizando R$ 4,84 trilhões (total de riquezas produzidas pelo país), informa o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). E, depois de uma retração no terceiro trimestre do ano passado, o crescimento de 0,7% no último trimestre surpreendeu positivamente e impediu que o Brasil entrasse em recessão técnica (que acontece quando o país tem seis meses seguidos de crescimento negativo). Esse era um dos temores do mercado.
E a indústria, apesar de ter crescido 1,3% ao longo do ano, teve um último trimestre ruim – retraiu 0,2%.
O setor que mais cresceu no ano passado foi a agricultura, com expansão de 7%.
O crescimento total do PIB (Produto Interno Bruto) foi maior do que no ano anterior – quando a economia avançou 1% -, mas a sequência de anos com crescimento mais modesto reflete, segundo analistas, um momento de esfriamento econômico e de maior instabilidade nos mercados emergentes.
No final do mês de fevereiro, o governo já havia reduzido as perspectivas de crescimento do PIB brasileiro para este ano – de 3,8% para 2,5%.
“Embora esteja ocorrendo uma recuperação da economia internacional, essa recuperação está sendo lenta, talvez mais lenta do que as previsões do mercado”, disse o ministro da Fazenda, Guido Mantega. “Iniciamos 2014 com volatilidade e alguma turbulência, que tende a se acalmar ao longo do ano.”
Cenários externo e interno
O cenário externo desfavorável para emergentes inclui da desaceleração do ritmo de crescimento da China (que diminui sua compra de matérias-primas de países como o Brasil) e a recuperação econômica dos EUA, que atrai investidores em busca de aplicações mais seguros do que os mercados emergentes.
Mas, para economistas, o Brasil é prejudicado também por questões internas.
O país começou o ano com um déficit histórico nas transações correntes (que inclui saldo entre importações e exportações e outras operações de entrada e saída de capitais): US$ 11,6 bilhões, maior “rombo” desde 1947, o início da série.
E alguns analistas criticam também interferências do governo em alguns setores – como o elétrico e o de combustíveis, para controlar preços — bem como a política fiscal, como manobras feitas para cumprir a meta de superavit primário (economia para pagamento dos juros da dívida) de 2012.
E há, também, o temor de aumento da inflação, o que vem forçando o Banco Central a elevar a taxa básica de juros. O último aumento ocorreu na noite do dia 26 de fevereiro, quando a Selic subiu para 10,75% ao ano.
Para Marcelo Moura, professor de macroeconomia do Insper, esse cenário despertou uma incerteza nos investidores, que passaram a enxergar o Brasil como uma economia frágil — cenário que agora ameaça tirar do país o “grau de investimento” (chancela, dada por agências de risco, a países considerados seguros para investidores).
“O que o Brasil mais precisa é credibilidade. Os fundamentos não mudaram: não perdemos o crescimento da classe média nem o grande mercado interno”, diz à BBC Brasil. “Mas são necessárias reformas — tributária, previdenciária, e até mesmo que o Estado priorize melhor seus gastos, para não sufocar a economia com a carga de impostos tão alta.”
Orçamento
Por isso, foi bem visto por analistas o anúncio, feito por Mantega, de cortes de R$ 44 bilhões do Orçamento deste ano do governo — dando indicativos de mais austeridade ao mercado, para controlar a inflação e evitar o aumento da dívida pública.
O ministro fixou a meta do superavit em 1,9% do PIB, que considerou “realista”. Para analistas ouvidos pela agência Reuters, é uma tentativa de assegurar que ela seja cumprida sem a necessidade de artifícios contábeis usados previamente.
O gerente de assuntos internacionais do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), Vinicius Lages, diz que os micro e pequenos empresários ainda estão otimistas para empreender no Brasil, aproveitando-se do amplo mercado consumidor interno, que continua aquecido e em expansão em várias partes do país.
Mas também cita a necessidade de resolver “problemas estruturais” — baixo nível educacional, regulação instável, infraestrutura e burocracia – para melhorar o ambiente de negócios no país. “Isso criaria um ambiente mais favorável para o setor privado, que precisa investir tanto quanto o público.”
Para Mori, da Fundação Getulio Vargas (FGV), o desafio é também diminuir o peso do setor público sobre a economia: “É preciso aumentar sua produtividade, fazendo mais sem gastar mais — ou seja, sem piorar serviços públicos como saúde e educação”.
(BBC Brasil)