Por Melita Inez Gatto
“Dona Fifa” parece uma senhora muito rica, pois já tem reservados 83 milhões de reais como prêmio à Seleção Campeã da Copa no Brasil … Mas, minha Escola Dionísio Lothário Chassot de Tapera-RS com 77 anos de vida, mais de 500 alunos não tem janelas que abrem e fecham, nem ginásio de esportes adequado, nem uniformes, nem bolas para todas as aulas de educação física, nem proteção contra incêndio, nem rede elétrica segura.
A Fifa distribui altos valores para Seleções, estádios luxuosos, premiações douradas, concentrações palacianas. No entanto, minha Escola não tem computadores, desde que um choque elétrico em aluno fez interditar a sala onde só havia 5 computadores para pesquisa e, ainda, fechada está.
A Seleção tem 23 jogadores cuidados por psicólogos, massagistas, médicos, técnicos, auxiliares, publicitários, nutricionistas… Porém, na maioria das salas de aula da minha escola, mais de 23 alunos disputam diariamente a atenção somente do professor que tem o quadro, livro, giz e motivação.
Sei que os atletas vão receber mais de 1 milhão se ganharem a Copa do Mundo. E nós vamos receber outra data para recuperar o dia letivo dispensado para assistir aos jogos do Brasil.
Li que os atletas vão receber almofadas com aromas para descansar. Merecem. Como eu queria que nossos alunos tivessem cadeiras confortáveis para sentar-se durante mais de 4 horas por dia de estudo e uma sala agradável para os 200 dias de aula por ano!
Os jogadores do Brasil terão camas king size para seu descanso. Eu quero que nossos alunos tenham alguns colchonetes para exercícios nas aulas de educação física, salas com aparelhos de ar condicionado e outros confortos para seu bem estar.
As Seleções terão um mega esquema de segurança com agentes, homens do exército, polícia militar, Polícia Federal, seguranças da CBF, batalhão de choque, isolamento com barreira de policiais, esquadrão anti-bomba… Nós queremos apenas cercamento ou muro de proteção de nossos pequenos alunos, para segurança, ao menos nos intervalos de recreação, pois há ruas movimentadas no entorno da escola.
Todo país vai parar para assistir jogos da Seleção. Eu queria que as famílias também parassem uma hora de vez em quando e passassem na escola de seus filhos para acompanhar, informar-se e valorizar o que os alunos fazem aqui.
Vai ter Copa. E nós vamos torcer com entusiasmo! Torcer muito para que mais brasileiros sejam bem atendidos na saúde pública. Mais brasileiros possam ter uma educação de boa qualidade. Para que os governantes reestruturem as escolas públicas tornando-as um ambiente bem equipado e seguro para qualquer criança que esteja na escola. Vamos torcer muito para que os policiais cuidem da segurança de todos os brasileiros sempre. Torcer para que nossos médicos sejam valorizados pela importante missão que tem: a de cuidar e salvar vidas. Torcer muito para que os brasileiros que precisam de transporte público não percam a esperança de ter dias melhores. Torcer para que os hospitais sejam equipados para o atendimento padrão tanto quanto os estádios foram reformados para jogos da Copa.
Vou torcer para o Brasil em todos os jogos. E vou torcer também para que, em todas as famílias, as crianças, jovens e idosos sejam bem cuidados. Mais esperança e torcida para que esquadrões façam a segurança diária em nossas estradas brasileiras a fim de que menos vidas terminem no trânsito violento desse país. Esse é meu grito do peito! Também vamos torcer para que, a eficiência na destinação de recursos para a Copa do Mundo, seja também, modelo para a competência na política séria, no trabalho responsável, no estudo valorizado como forma de promoção humana, no respeito à saúde de cada cidadão. Esse é o desejo que eu amarro na “chuteira” com a qual caminho diariamente, porque o verde-amarelo são também cores de nosso coração e queremos mais do que sucesso no futebol. Queremos a emoção do grito de gol o dia inteiro!
Tapera, 26 de maio de 2014.
Ano da Copa do Mundo no Brasil
