Apesar da estiagem, agronegócio é essencial para a economia

Postado em 28 abril 2020 15:00 por JEAcontece
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Tupanciretã, na Região Central do Rio Grande do Sul, tem cerca de 150 mil hectares tradicionalmente semeados com soja, o que lhe garante, há anos, o título de campeã na produção da oleaginosa do Estado. Para se ter uma ideia da importância e da abrangência da cultura na cidade, a área semeada corresponde a mais da metade de todo o território, estimado em 220 mil hectares.

A soja é o carro-chefe e a maior fonte de emprego do município, assegura o prefeito Carlos Augusto de Souza. É a soja que esquenta o mercado local em todos os setores, do comércio ao imobiliário, e serve como moeda de troca em muitos negócios.

Os grandes sojicultores da cidade, como em todo o Estado, comercializam os grãos para o mercado mundial, embarcados no porto do Rio Grande e, em sua maior parte, destinados à China. Boa parte dessa riqueza fica na cidade de origem, diz Souza. Na verdade, é determinante.

“Aqui, quando a soja fracassa, tudo fracassa, do comércio até a arrecadação do município. O impacto ocorre em todos os lados, da compra de imóveis à legalização de uma área rural pendente que fica para depois”, sintetiza Souza.

São recursos que alimentam revendas de máquinas agrícolas, por exemplo, assim como serviços de mecânica e aquisição de veículos em tempos de maior bonança. Já os trabalhadores das fazendas aquecem o comércio local, com compras em lojas de roupas e supermercados, e também com obras e construções de novas ou maiores residências no meio urbano. Hoje, são em torno de 450 grandes produtores de soja, metade deles com produção empresarial. Ao todo, são mais de mil propriedades focadas na cultura, segundo a Associação dos Produtores de Soja (Aprosoja).

Com a estiagem drenando os ganhos neste ano, lamenta o prefeito, a vida comercial da cidade se retraiu, e lojistas, agora, falam em demissões, posição reforçada com a pandemia global, assegura Souza.

Mas o coronavírus só agravou uma situação que já não era boa. No Rio Grande do Sul, a estiagem trouxe uma realidade ainda pior ao se somar à pandemia do que em outros estados, ressalta o delegado do núcleo da Aprosoja em Tupanciretã, José Domingos Teixeira. Este, porém, foi o primeiro ano de danos após sete ciclos de boas colheitas, admite Souza. Tanto que os negócios que mais se sobressaíram nos últimos anos foram no setor imobiliário – o que é curioso em uma cidade de 24 mil habitantes.

“As últimas safras vinham impulsionando bastante os negócios imobiliários. Foram muitas construções de casas e até a implementação de um bairro novo, estruturado por algumas imobiliárias”, explica Souza.

Além de novas casas, como no recém-criado Residencial Progresso, a construção civil e o comércio destinado a obras e acabamentos também vinha aquecido com as reformas. Isso tudo, porém, mudou no início de 2020, lamenta o prefeito.

“Quando escasseou a chuva, a partir de janeiro, o pessoal já retraiu, pensando no que poderia vir pela frente. Hoje, tem comércio e prestador de serviço já com bastante dificuldade”, lamenta ele.

O varejo local, informa o prefeito, havia se organizado para vendas maiores, principalmente com expansão de tamanho e número de lojas, e funcionários, nos últimos anos. O impacto da atual estiagem no caixa da prefeitura ainda está sendo calculado, mas deve ser de uma queda acima de 30%, antecipa Souza. O prefeito diz que ainda não sabe onde ocorrerão os cortes, mas eles virão.

“Sou meio radical com controle de gastos. Pegamos o município mal financeiramente e equilibramos. Me preparava para um fechamento de ano tranquilo, mas cortando algumas despesas e trabalhos. Agora, perdemos um pouco desse horizonte e vamos ter que encurtar mais o cobertor, certamente”, antecipa Souza.

Pelos cálculos do representante da Aprosoja, o setor primário deixou na economia da cidade, em 2019, cerca de R$ 600 milhões, valor que irrigou o comércio e os serviços. Com a quebra na safra estimada em 55% neste ano, esse montante deve cair para cerca de R$ 320 milhões. No total, a riqueza gerada pelo agro representa 82% da receita municipal, tendo como carro-chefe a soja.

“E tem ainda a agricultura familiar. Somos um município com 17 assentamentos, 13 mil de hectares assentados, e isso representa 800 famílias, com renda basicamente vindas do leite e da soja. Estimo que serão, no mínimo, R$ 350 milhões a menos circulando na cidade”, analisa Teixeira.

Jornal do Comércio

Postado em 28 abril 2020 15:00 por JEAcontece
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