O brasileiro que ressuscitou a Rodada Doha

Postado em 12 dezembro 2013 07:25 por JEAcontece
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Acordo de Bali premia esforço do atual diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), que com apenas três meses no cargo conseguiu fazer avançarem negociações que estavam praticamente paradas há uma década. Indonésios falam em “efeito Azevêdo”. O acordo vem sendo rotulado como histórico. Pela primeira vez, todos os 159 membros da Organização Mundial do Comércio(OMC) chegaram a um consenso sobre regras específicas para a simplificação das políticas alfandegárias e a redução de subsídios agrícolas.

Não à toa Roberto Azevêdo, diretor-geral da OMC, tinha lágrimas nos olhos quando anunciou o resultado da negociação. E poucos duvidam que sua comoção não fora legítima – com apenas três meses no cargo ele fez o que nenhum outro conseguiu na última década: dar sobrevida à Rodada Doha.

Apoio dos emergentes

Quando o diplomata substituiu o francês Pascal Lamy, em setembro de 2013, a OMC estava praticamente paralisada. Em 2001, em Doha, os então 142 membros da organização já haviam começado a tentar simplificar e dinamizar o comércio mundial, mas as negociações não foram à frente. Como grande obstáculo na época, os subsídios agrícolas dos países desenvolvidos.

Com a bagagem de quem conhece os meandros do comércio global como poucos, Azevêdo levou esperança à OMC. Diplomata de carreira, ele foi subchefe para assuntos econômicos do Itamaraty de 1995 a 1996; esteve à frente da delegação brasileira, entre 2001 e 2005, em contenciosos como o caso dos subsídios dos Estados Unidos ao algodão; e, em 2008, chegou ao posto de embaixador permanente na OMC.

Nos círculos diplomáticos, Azevêdo é considerado um negociador hábil. O que ficou comprovado em Bali, onde ele conseguiu não só acalmar o ministro do Comércio da Índia, Anand Sharma, como também fez com que os insistentes cubanos finalmente cedessem e assinassem o acordo.

Mesmo durante o período de estagnação da OMC, Azevêdo obteve vitórias diplomáticas importantes. Ele foi peça-chave para a organização na imposição de medidas a dois dos mais poderosos membros. Em 2005, a União Europeia (UE) foi obrigada a reduzir suas subvenções ao açúcar. E, em 2008, os Estados Unidos foram forçados a diminuir os subsídios ao algodão.

Os subsídios dificultavam a entrada de produtos de países como o Brasil na UE e nos EUA, o que não torna exatamente uma surpresa o fato de Azevêdo ter sido eleito para chefiar a OMC com grande apoio do mundo emergente. Antes mesmo de assumir o cargo, ele já deixara claro que a sua prioridade seria destravar Doha.

Em entrevista à Deutsche Welle em fevereiro, ele afirmou que queria que a OMC voltasse a ser um foro viável de negociações “para que as atenções voltem ao sistema multilateral e as negociações voltem a ter um grau de ambição compatível com as necessidades de crescimento do mundo atual”.

Desejo antigo

Em Bali ficou claro que a promessa está sendo cumprida. Três meses depois de assumir o cargo, Azevêdo fez não só com que os países-membros retomassem as negociações depois de mais de dez anos, como também com que eles chegassem a acordos importantes em vários aspectos.

“Precisamos reconhecer que os países sempre estão em ciclos econômicos diferentes, e que para negociar não se deve ficar esperando uma homogeneidade, porque é muito difícil que isso aconteça, ou seja, numa negociação entre quase 160 países, não se pode esperar que todos estejam vivendo o mesmo momento em termos de abertura comercial”, disse Azevêdo à DW em fevereiro.

O ministro do Comércio da Indonésia, Gita Wirjawan, brincou dizendo que o sucesso das negociações devia ser atribuído à atmosfera inspiradora da ilha de Bali, onde o evento foi realizado. Depois, ele mesmo se corrigiu e afirmou que a inspiração tinha vindo de fato do “efeito Azevêdo”.

Como enfatizou o próprio Azevêdo ao fim da conferência, ainda há muito trabalho a ser feito até que se atinja uma redução significativa das barreiras comerciais. Até agora, apenas uma parte do plano estabelecido há mais de uma década, em Doha, foi alcançada.

(Deutsche Welle)

Postado em 12 dezembro 2013 07:25 por JEAcontece
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