Ao empreender, pense no prejuízo e esqueça o lucro

Postado em 16 outubro 2013 08:09 por JEAcontece
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O empreendedor Flavio Pripas e seu sócio Renato Steinberg são donos de um título invejável: no ranking anual da revista FastCompany ambos conquistaram o 54° lugar entre os 100 mais criativos do mundo em 2012, graças ao site Fashion.me.

Em 2008, eles criaram uma espécie de rede social de moda, com montagens de looks e dicas de estilo, que lhes rendeu uma reviravolta. Em seis meses, o site, inicialmente criado para suas esposas com um investimento de R$ 30 por mês, conseguiu reunir 15 mil visitantes por dia, e a dupla resolveu largar os empregos no mercado financeiro para se dedicar ao projeto.

A criatividade foi essencial para que o site alcançasse o sucesso, mas Pripas disse que foi preciso muito mais do que inovação. Em entrevista ao Olhar Digital Pro, o empresário conta como desenvolveu um projeto completamente fora de seu mundo e divide dicas valiosas para quem pensa em abrir seu próprio negócio. Uma delas, talvez a mais importante, recomenda que o empreendedor esteja preparado para o prejuízo.

Conte como começou o Fashion.me e qual era o contexto do mercado brasileiro de internet naquela época.
Renato e eu nos conhecemos em 2008 na JP Morgan e nossas esposas queriam abrir uma loja de roupas. Como não queríamos investir muito dinheiro em algo que não conhecíamos, pensamos em usar a internet. Percebemos que no ambiente online não precisaríamos desembolsar muito. A ideia inicial era um site que combinava looks, que podiam ser divulgados ali mesmo. As pessoas comentavam as combinações e davam suas sugestões.

Na época, o Orkut estava em grande evidência no Brasil e os blogs de moda começavam a surgir. Pensamos, então, que as esposas poderiam ‘frequentar’ estes blogs convidando as leitores e blogueiras a conhecer o site, que ainda se chamava BYMK [uma referência ao nome das esposas, Marcela e Karen].

Sem investimento nenhum, apenas os R$ 30 pagos pelo hosting, [Flavio e Renato programaram o site], em seis meses tínhamos 15 mil usuários por dia. Nesta mesma época, Renato e eu nos trancamos durante um fim de semana para resolver se tocaríamos o site ou fecharíamos, já que estava impossível conciliar o trabalho e o projeto. Decidimos largar os empregos, mas não tínhamos ideia de como monetizar o site.

Então, um mês depois, no dia das mães, uma agência de publicidade entrou em contato com a gente para fazer uma campanha, mas eles queriam 70% do lucro. Achamos que a conta não estava certa e fomos atrás de um concorrente. Acabamos fechando com a Renner. Em cinco dias de campanha foram criados 1.264 looks para as mães, um verdadeiro sucesso. Depois desta primeira movimentação financeira no site, fechamos outras parcerias que mantemos até hoje. Em 2012 veio a injeção de capital da Intel e da 500 Startups.

Ainda estamos experimentando muitas coisas para que a empresa se torne sustentável. Sinceramente ainda estamos longe da onde podemos chegar.

Foi difícil decidir largar tudo? O que vocês levaram em consideração? E quais dicas daria para quem vive este dilema?
Pensamos em algo que só depois fomos descobrir que se tratava de uma teoria de empreendedorismo diferente, chamada ‘effectuation’. Esta escola de pensamento é baseada em 4 pilares que sempre seguimos naturalmente. O primeiro pensamento foi: quanto tempo podemos sobreviver sem trabalho e rentabilidade no site? Colocamos isso no papel e pensamos que tínhamos seis meses para nos dedicar e, caso tudo desse errado, voltaríamos para o mercado financeiro.

Este é o primeiro pilar da teoria e é chamado de ‘perdas suportáveis’. Seguimos isso até hoje, mas, obviamente, isso vai mudando durante o projeto e vai ficando mais confortável com o passar do tempo. Hoje podemos nos dedicar mais tempo, pois tivemos a injeção de capital. Mas se o dinheiro acabar e não conseguirmos o lucro necessário teremos de abandonar o barco.

O segundo pilar é o ‘futuro imprevisível’. Temos de estar preparados para lidar com surpresas e isto está ligado ao terceiro pilar: ‘testar possibilidades’. Temos de tentar de tudo para ver o que dá ou não dá certo. A dica é ficar de olho aberto. Por fim, o quarto pilar fala de ‘crescimento por meio de parcerias’, algo que fazemos bastante com a Abril, Globo, MTV, portal MSN e etc. As parcerias servem para dar impulso e experimentar coisas que sozinhos não conseguiríamos. Enfim, sem querer sempre seguimos estes conceitos e acho que eles podem ser muito bons para quem está em um mercado desconhecido.

Quais outras dicas você daria para quem está começando?
Desde o primeiro dia em que resolvemos nos dedicar ao site começamos a correr atrás de investidores e conhecimento. Frequentei eventos de empreendedorismo, iniciei uma rede de relacionamento e fui entendendo melhor como funciona este mundo empreendedor. Acredito que o ativo mais importante é uma boa rede de contatos. Desta forma você entende quais são os tipos de investidores e consegue distinguir qual é o melhor investidor para seu negócio.

Outra dica importante é falar com o maior número de pessoas possível e nunca guardar uma ideia pra si. O brasileiro é muito restritivo em compartilhar ideias e isso é uma besteira. Cada vez que você compartilha algo, esta ideia é melhorada. Esse negócio de roubo de ideia é relativo e sempre sou bem enfático ao tocar no assunto: se roubaram sua ideia a culpa foi sua de não ter sido competente suficiente de desenvolvê-la antes. Quem sempre vai ganhar o mercado é aquele que executar primeiro e melhor. Neste mundo o ideal é pedir dicas, indicações, conversar e, obviamente, executar suas ideias.

Hoje em dia eu acho praticamente impossível um investidor apoiar uma ideia apenas, pois está muito fácil de executá-las. Eles vão investir nas pessoas que demonstram capacidade de execução, por isso que um protótipo, de 10% a 20% do que será a ideia, é essencial para vendê-la. O investidor precisa ver o produto mínimo viável.

Atualmente quais segmentos você vê oportunidades para empreender?
Ainda tem muito espaço para ser explorado. Esta transformação do mercado brasileiro tem cerca de 15 anos e ainda tem muita coisa para ser criada. Vejo que o hardware é um mercado muito complicado e eu enxergo poucas oportunidades. Mas, tem um projeto de hardware que eu me apaixonei, chamado Metamáquina, de impressoras 3D. Acho que é um dos únicos de sucesso no país.

Ao meu ver, a grande tendência hoje nos Estados Unidos, e que deve chegar nos próximos anos aqui no Brasil, é o Big Data. Trata-se da análise de grandes quantidades de dados desestruturados. Análises semânticas e de sentimentos. É uma grande oportunidade em software. Já algo mais próximo do cenário brasileiro é o mobile. Todas as camadas sociais da população terão smartphones nos próximos dois anos e isso significa oportunidade de negócios.
Também compartilho do pensamento de Mark Zuckerberg, acredito que todos deveriam saber desenvolver. Programar é sistematizar o problema para a máquina entender. Renato e eu fizemos o nosso próprio site e acho que isso fez muita diferença.

(Olhar Digital)

Postado em 16 outubro 2013 08:09 por JEAcontece
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