Parte do resultado negativo entre o que é efetivamente gasto e o que é encaminhado pelo Ministério da Saúde é suprido pela Prefeitura e emendas. Apesar disso, em 2019 75% dos atendimentos no hospital foram pelo SUS
Os hospitais de todo o país e, especialmente, do Rio Grande do Sul estão passando por situações financeiras desafiadoras. Além de alguns atrasos de repasses, outro problema que impacta o caixa das instituições – e o principal deles, diga-se de passagem – é a defasagem de recursos encaminhados pelo Ministério da Saúde, relativos aos atendimentos prestados pelas instituições, na maioria filantrópicas, via Sistema Único de Saúde (SUS).
Entre as casas de saúde que enfrentam o desafio de gerir um custo maior do que a receita está o Hospital de Caridade de Carazinho (HCC). Conforme o Administrador do HCC, Felipe Sohne, as tabelas do SUS não sofrem reajuste desde 2005. Com isso, a defasagem média que a unidade hospitalar registra entre receitas e despesas com atendimentos SUS é de 30%.
“Todos os serviços que atendem ao SUS possuem uma defasagem nos valores recebidos, em função das tabelas não serem reajustadas desde 2005. No HCC não é diferente, convivemos sim com esta defasagem e trabalhamos a gestão em diversos pontos para minimizar esta diferença e prosseguir com a manutenção do HCC. Atualmente, pode-se afirmar que a cada R$ 100,00 que o HCC gasta para atender ao SUS, recebe, em média, somente R$ 70,00. Então, há uma defasagem de pelo menos 30% em relação ao custo efetivo do serviço prestado. Mas, essa porcentagem pode ser maior dependendo o tipo de atendimento”, detalha Sohne.
Gestão plena com prefeitura e emendas aliviam o déficit do caixa
Uma defasagem de 30% prejudica qualquer fluxo de caixa e em instituições de saúde, como hospitais, a falta de recursos resulta em um impacto imediato nos atendimentos. No entanto, em Carazinho a falta de verbas consegue ser amenizada graças a dois principais auxílios, a gestão plena que o HCC possui com a Prefeitura carazinhense e a destinação de emendas parlamentares, intermediadas por lideranças políticas locais junto a deputados e senadores.
– O Município de Carazinho complementa alguns serviços do HCC, porém, a defasagem acima mencionada já considera os valores que o município, através de sua Secretaria de Saúde, repassa ao hospital. Mas em contrapartida a isso, o município é um grande parceiro em conseguir emendas parlamentares para investimentos e também para custeio, que de maneira eventual, auxiliam no fluxo de caixa do HCC – expõe o administrador.
De acordo com a Secretária de Saúde carazinhense, Anelise Almeida, o Executivo repassa cerca de R$ 100 mil por mês a mais ao HCC para cobrir parte da defasagem dos atendimentos realizados via SUS.
Diante dessa realidade, uma forte pressão é realizada junto ao Ministério da Saúde através da Federação das Santas Casas do RS e também da Confederação das Misericórdias do Brasil, além de lideranças políticas. Mas, mesmo assim, as tabelas do SUS seguem congeladas e não há um indicativo de quando isso poderá ser revisto pelo Governo Federal.
Atendimentos SUS no HCC alcançaram 75% em 2019
Apesar das dificuldades de caixa, em 2019, 75% de todos os mais de 76 mil atendimentos realizados pelo HCC foram através do Sistema Único de Saúde. De acordo com Sohne, no ano passado foram registradas, em média, 680 internações e mais de 6,3 mil atendimentos ambulatoriais por mês na casa de saúde.
– Salientamos que mesmo com toda a defasagem da tabela SUS, o compromisso do HCC é sempre de bem atender a todos os nossos pacientes. Praticamos uma gestão consciente e com o compromisso na manutenção da estrutura hospitalar, através de parcerias, de melhorias na nossa hotelaria com investimentos em reformas e equipamentos. A direção do HCC é formada por membros voluntários, abnegados, que dispõem de seu tempo e compromissos para trabalhar em prol de nossa comunidade regional, que hoje se aproxima de 200 mil habitantes – frisa Felipe Sohne.
Diário da Manhã
