A difícil jornada do paciente com câncer no Brasil é tema de estudo

Postado em 24 dezembro 2019 06:02 por JEAcontece
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Levantamento investigou a situação atual do tratamento oncológico no Brasil. O oncologista do CTCAN, Dr. Alvaro Machado, comenta a pesquisa

Melhorias na atenção ao câncer no Brasil são urgentes. Isso é o que aponta o levantamento “Câncer no Brasil: a jornada do paciente no Sistema de Saúde e seus impactos sociais e financeiros”, que contou com a avaliação técnica da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC). Dados que preocupam frente a uma doença que aumenta em incidência e em mortalidade. São 600 mil novos casos de câncer e 200 mil mortes por ano, sendo que em mais de 500 municípios brasileiros o câncer já é a primeira causa de morte da população.

O levantamento do panorama do tratamento oncológico no Brasil, que engloba a situação no sistema público e planos de saúde, tem como objetivo identificar os principais desafios durante a jornada do paciente com câncer. Mesmo com avanços importantes nos últimos anos, o país tem muitas deficiências no diagnóstico e tratamento da doença, afetando as chances de cura e a qualidade de vida dos pacientes. Isso significa que quanto maior a demora para iniciar o tratamento, mais avançada é a doença, piores são os resultados do tratamento e os impactos sociais e financeiros.

Piores indicadores no investimento em câncer
Conforme a pesquisa, o Brasil apresenta os piores indicadores no investimento em câncer se comparado a países da América Latina. O oncologista do Centro de Tratamento do Câncer (CTCAN), Dr. Alvaro Machado, que integra um dos comitês da SBOC, comenta a pesquisa e destaca que dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) mostram que a maior parte das mortes por câncer ocorrem nos países em desenvolvimento e nas próximas décadas o maior crescimento na incidência será nesta região. “Isso é um problema de saúde pública, econômico e humano enorme. Estes são os desafios. A mensagem central deste levantamento é de que a política de câncer não está avançando no Brasil. Ao contrário, estamos andando para trás. Temos um orçamento geral de saúde congelado por 20 anos”, destaca o oncologista do CTCAN.

Quando comparado às principais economias do mundo e países da América Latina, o paciente com câncer no Brasil apresenta menos anos de “vida com saúde”, cerca de 2,4 vezes quando comparado a alguns países da Europa e, praticamente um terço de anos de vida em comparação a um paciente com câncer nos Estados Unidos. “Vida saudável ou Vida com Qualidade descreve o ganho não apenas em tempo (meses ou anos) como consequência dos tratamentos, mas com qualidade de vida social, familiar e, também, de trabalho”, enfatiza Machado.

Diferenças significativas entre sistemas público e privado
As diferenças entre os atendimentos nos sistemas público e privado são significativas. Isso é preocupante porque a oferta dos serviços privados é restrita a 25% dos brasileiros. Os demais, cerca de 160 milhões de pessoas, contam exclusivamente com o SUS. Os gastos diretos com o câncer, como medicamentos, hospitalizações e cirurgias, além dos custos indiretos, como morte prematura, absenteísmo e aposentadoria por invalidez, foram estimados em R$ 4,5 bilhões no SUS, já na saúde suplementar (sistema privado), as despesas chegaram a R$ 14,5 bilhões em 2017.

Entre as dificuldades encontradas pelos pacientes do SUS estão a falta de padronização no rastreamento para alguns tipos de câncer, dificuldade de acesso a exames preventivos e agenda de consultas, demora para obter os resultados dos exames de estadiamento, restrição de acesso a medicamentos e a exames complementares. Já os pacientes do sistema privado têm mais agilidade no encaminhamento, no entanto, também encontram dificuldade de acesso à testes que estão no Rol da ANS, que garante a cobertura assistencial dos beneficiários dos planos de saúde, bem como na demora para atualização deste Rol. “As diferenças entre os sistemas são enormes, imensas. A SBOC publicou em 2018 dados de acesso a medicamentos modernos, que são restritos também à população assistida pela saúde suplementar (sistema privado). Isso tudo se traduz numa tragédia, que é a expectativa de vida do paciente com câncer no Brasil. Mulheres com câncer de mama metastático, avançado, tratadas no sistema privado, vivem em médica 56 meses, enquanto no SUS a média é 22 meses”, observa o oncologista do CTCAN.

Falhas no diagnóstico precoce e rastreamento do câncer
Conforme a OMS, aproximadamente 1/3 dos cânceres podem ser evitados com hábitos saudáveis e a grande maioria pode ser curado quando detectado precocemente e tratada de forma adequada. O diagnóstico precoce (conscientização da população) depende do rastreamento (realização de exames). No Brasil não existem políticas de rastreamento. Prazos diagnóstico e início do tratamento estão em lei, mas não são cumpridos.

Existem demoras em várias etapas da atenção ao paciente, desde a suspeita do diagnóstico, o encaminhamento para o especialista, realização dos exames e liberação dos resultados. Faltam especialistas na rede pública. “O diagnóstico precoce significa maiores taxas de cura, tratamentos menos invasivos ou mutilantes e custos imensamente menores. Dos principais cânceres que afetam a população brasileira, quase todos podem ter diagnóstico precoce com políticas de rastreamento. Câncer de pulmão, câncer de mama, câncer colorretal (intestino grosso) e câncer do colo uterino são exemplos. Outros tantos podem ser evitados com políticas públicas de educação, alimentação, higiene e vacinação”, salienta o oncologista do CTCAN, enfatizando ainda que é importante e urgente o acesso ao sistema de saúde, aos meios diagnósticos e aos especialistas pela população desassistida. “Isso tudo é investimento inicial para economia futura”, afirma Machado.

Investimentos são urgentes
O estudo reforça a crescente importância do impacto do câncer para o sistema de saúde do Brasil, tanto em aspectos epidemiológicos, como econômicos e sociais, bem como a necessidade urgente de discussão acerca de propostas e melhorias na atenção oncológica no Brasil. O levantamento conclui que as melhorias só ocorrerão por meio de uma atuação abrangente de todos os agentes envolvidos (governo, profissionais de saúde, pacientes, gestores, pesquisadores, indústria, entre outros) e em alguns pilares fundamentais como: Promoção e prevenção; Agilidade no diagnóstico; Produção, monitoramento e avaliação de indicadores com dados de mundo real; Acesso integral ao tratamento; e comunicação e a disseminação de informações corretas.

Confira a pesquisa completa no site da SBOC (www.sboc.org.br).

Conforme o oncologista do CTCAN, Dr. Alvaro Machado, a mensagem central deste levantamento é de que a política de câncer não está avançando no Brasil

Jornalista Natália Fávero – Assessoria de Imprensa CTCAN

Postado em 24 dezembro 2019 06:02 por JEAcontece
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