SOLEDADE – Região aguarda confirmação de surto de raiva em rebanho

Postado em 05 abril 2019 06:30 por JEAcontece
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Cerca de 50 bovinos morreram em Soledade e a suspeita é de que teriam sido infectados por morcego. Inspetoria Veterinária Zootécnica comenta sobre a possibilidade da doença se alastrar para outros rebanhos

Um possível surto de raiva herbívora pode ter motivado a morte de 50 bovinos em duas propriedades do interior de Soledade. A suspeita surgiu na semana passada, quando rebanhos foram encontrados mortos nas comunidades de Margem São Bento e São Sebastião. A informação foi repassada à imprensa nesta semana. Ainda no final de semana, autoridades ligadas à saúde daquele município coletaram materiais para análise. Para evitar um possível contágio da doença entre as pessoas que residem nas localidades, doses de vacina precisaram ser aplicadas.

Em entrevista ao Diário, a médica veterinária da Inspetoria Estadual de Defesa Agropecuária de Soledade, Isadora Corrêa, falou sobre o andamento da investigação. Segundo ela, os exames estão sendo conduzidos por um grupo de profissionais ligados à uma instituição universitária e também pelo Instituto de Pesquisas Veterinárias Desidério Finamor (IPVDF). O diagnóstico oficial deve ficar pronto nos próximos dias.

– Foram feitas quatro coletas entre os animais mortos. O procedimento consistiu na retirada de parte da medula e do cérebro. Os primeiros resultados obtidos pela universidade já apontam para a presença da doença nesses animais. A universidade, no entanto, não tem como emitir o laudo oficial, já que no estado compete somente ao IPVDF apresentar esse parecer. É esta resposta que aguardamos para, de fato, concluir esse diagnóstico – explica.

Nesse contexto, medidas preventivas estão sendo adotadas no município de Soledade para evitar que a doença viral se alastre para outros rebanhos. “Cerca de 50 animais morreram em decorrência do problema e os demais que apresentavam a suspeita de raiva foram sacrificados” cita Isadora.

– Aos produtores, nossa recomendação é para que adotem medidas de prevenção. Elas consistem na vacinação do rebanho. Não se trata de uma medida obrigatória, mas que deve ser aplicada nos animais que apresentarem uma suspeita mais evidente e quando o produtor estiver com receio. Porém, ressalto que essa medicação não é 100% efetiva. Se o animal já estiver infectado pelo vírus da raiva, a vacinação não irá reverter seu quadro”, esclarece a médica veterinária.

Contágio em outros rebanhos
A raiva é uma patologia causada pelo vírus Lyssavirus e pode atingir a maioria dos mamíferos, incluindo a espécie humana. No Brasil, as espécies mais atingidas são bovinas e equinas. A doença viral é irreversível e ocorre no sistema nervoso central, levando à morte. O principal transmissor de raiva para os bovinos são os morcegos hematófagos e geralmente ocorre por inoculação da saliva dos animais infectados, mas é possível contrair pelo contato com o sangue e saliva em mucosas. O período de incubação do vírus pode chegar a 6 meses.

Uma vez infectado pela raiva, os bovinos passam a apresentar sintomas como incoordenação motora, salivação excessiva, insensibilidade ao toque, flacidez ou desvio lateral de cauda, mugidos sem som, dificuldade em deglutir, agressividade, paralisia flácida de membros e em casos mais avançados o animal não consegue se levantar.

Procurado para comentar sobre um possível surto da doença em rebanhos de municípios vizinhos a Soledade, o fiscal estadual agropecuário Daniel da Silva Lucas, que atua junto à Inspetoria Veterinária Zootécnica (IVZ) de Carazinho, disse que há a possibilidade da doença se espalhar para cidades adjacentes, entretanto, esse risco é baixo.

– Os morcegos podem infectar rebanhos num raio de até 12 quilômetros de seu ninho, então, os morcegos que passaram a doença para o rebanho em Soledade não chegarão, por exemplo, a Carazinho ou Coqueiros do Sul. O que pode ocorrer é haver uma superlotação de morcegos nesse local e a espécie se dividir, com um grupo buscando um novo local para viver. Aí entra a chance deles migrarem para outros municípios. A possibilidade dessa migração acontecer, no entanto, é baixa – pontua.

Como precaução, Lucas também recomenda aos criadores de gado que busquem vacinar seus animais. A vacina antirrábica para bovinos é encontrada em casas agropecuárias. Outra dica é prestar atenção em possíveis alterações no rebanho. “Se forem constatadas mordeduras no rebanho seguido dos sintomas de raiva é importante comunicar a Inspetoria e adotar as medidas necessárias. Se forem verificados locais com grande grupo de morcegos, também é necessário nos comunicar, pois iremos até o ponto indicado para verificar se se trata da espécie que transmite a doença e, na sequência, faremos o controle. Não é indicado matar esses animais, pois existem espécies que realizam um trabalho importante de polinização. A morte desenfreada poderia causar transtornos ambientais”, adverte.

Segundo o fiscal, não é comum a ocorrência de surtos de raiva na região Norte. Em 2018, apenas um caso foi registrado na área de abrangência da Inspetoria regional, que tem sede em Passo Fundo. No restante do país, estima-se que a raiva seja responsável pela morte de cerca de 50 mil bovinos por ano.

Riscos para as pessoas
De acordo com Lucas, a maneira mais comum da doença chegar aos humanos é através de cachorros infectados, já que são raras as situações em que pessoas são mordidas por morcegos. “Por isso se fala tanto da importância de vacinar anualmente cães. Aos humanos, também é ofertada a vacina como prevenção”, finaliza.

“Se forem constatadas mordeduras no rebanho seguido dos sintomas de raiva, é importante comunicar a Inspetoria e adotar as medidas necessárias. Se forem verificados locais com grande grupo de morcegos, também é necessário nos comunicar, pois iremos até lá para verificar se se trata da espécie que transmite a doença e, na sequência, faremos o controle”, Daniel da Silva Lucas – fiscal estadual agropecuário da Inspetoria Veterinária Zootécnica

Diário da Manhã

Postado em 05 abril 2019 06:30 por JEAcontece
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