Qualidade das estradas gaúchas cai em dez anos

Postado em 21 agosto 2018 06:56 por JEAcontece
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Estudo da CNT alerta que índices de conservação das rodovias brasileiras retraiu na última década, em especial no Rio Grande do Sul

O estudo Anuário do Transporte, realizado pela Confederação Nacional do Transporte (CNT), revelou que a malha rodoviária total brasileira cresceu 20,8% em dez anos, alcançando mais de 105 mil quilômetros de rodovias em 2017. As estradas gaúchas registraram crescimento semelhante, aumentando 16,94% a sua extensão desde 2007, contando hoje com mais de 7,5 mil quilômetros.

Segundo a pesquisa, aproximadamente 8,05% das estradas do país foram classificadas como péssimas, 20,06% são consideradas ruins, 29,33% foram categorizadas como boas, 33,63% são regulares, e apenas 8,92% foram classificadas como ótimas. No Rio Grande do Sul, 43,32% foram consideradas regulares, 33,79 foram classificadas como boas, 15,54% catalogadas como ruins, 3,95% foram taxadas como ótimas, e 3,379% foram levantadas como péssimas. Embora isoladamente os números passem a ideia de que as estradas estejam em boas condições, se comparados com os resultados obtidos há uma década atrás, esse índice despencou: enquanto em 2007 eram considerados ótimos 1.260 km da malha viária gaúcha, apenas 349 quilômetros chegaram a esse nível em 2017. “Nós não temos nem planejamento e nem investimento. Está complicada a questão de estrutura no Brasil, sobretudo no Rio Grande do Sul”, alerta Afrânio Rogério, presidente do Sindicato das Empresas de Transporte de Cargas e Logística no Estado do Rio Grande Do Sul (Setcergs). Munira Medeiros Awad, presidente do Corede Produção, concorda: “Está faltando muito investimento, nós temos um gargalo muito grande nessa questão, que é a falta de planejamento estratégico na manutenção das nossas rodovias”.

Rogério afirma que os incentivos dos governos estão na contramão do desenvolvimento. “Tem que se medir duas coisas: Nada foi feito nas estradas nos últimos anos, e aumentou em muito o volume de cargas de transporte por caminhões. Os caminhões continuaram a transportar, e as estradas estão em condições muito ruins para isso, pior do que há dez anos”, relata.

Transbrasiliana: 50 anos de promessas

Um dos exemplos de má gestão é a BR 153, conhecida como Transbrasiliana. A estrada de chão, que tem um longo histórico de busca por pavimentação, não apresenta condições suficientes para o tráfego de veículos em um trecho de 70 km, que liga Passo Fundo a Erechim, e que poderia ser uma importante rota ligando o Estado com o restante do país. “Somente agora conseguimos a liberação do edital da BR 153, que é uma obra que já deveria ter sua malha asfáltica pronta há 50 anos”, relata Awad. O governo federal anunciou, em julho deste ano, a primeira etapa do projeto de conclusão, com a liberação do edital para elaborar o projeto da obra. Mas Awad lembra que não será um processo ágil. “Temos um prazo ainda para o Denit liberar e publicar o edital, e depois desse edital pronto o comitê executivo vai iniciar a segunda etapa, que é trabalhar com a execução da obra, que está avaliada hoje em R$ 250 milhões. Eu tenho a esperança que essa obra seja executada pelo Exército Brasileiro, e com isso o custo será inferior a esse total”.

Problemas na pavimentação e na sinalização

Para realizar essa comparação, a CNT utiliza três parâmetros, sendo eles a sinalização, o pavimento e a geometria. E a classificação caiu em dois desses fatores, sendo que nas condições de pavimento, 4.612 quilômetros eram considerados ótimos em 2007, e em 2017, esse número caiu quase pela metade, com 2.936 quilômetros classificados como pavimento de excelente qualidade. A sinalização também recuou consideravelmente, passando de 2.704 km para apenas 429 quilômetros considerados ótimos. Apenas a geometria apresentou movimento inverso, passando de 154 quilômetros em 2007 na classificação ótimo, para 303 no ano passado.

Mesmo sendo utilizado como principal meio de transporte no país, o modal rodoviário tem recebido pouco investimento, sendo que a malha pavimentada cresceu apenas 0,5% entre 2009 e 2017, de acordo com o Anuário do Transporte da CNT. Como consequência, 61,8% das principais rodovias apresentam problemas atualmente, e somente em 2017, mais de 6 mil mortes ocorreram nas estradas de todo Brasil. O levantamento da CNT mostra que apenas 12,4% das estradas nacionais são pavimentados, e o restante da malha se divide em estradas não pavimentadas (78,5%) ou planejadas (9,1%). E, para o futuro, o presidente do Setcergs não se mostra muito otimista. “Estamos totalmente empacados nesse quesito, e eu acho que isso realmente vai demorar muito ainda, pois o trabalho de infraestrutura que se deve fazer é muito. Eu não vejo, nesse momento, um cenário que possa melhorar essa condição de uma maneira mais rápida”.

Sem conservação, estradas causam prejuízos

“O Brasil é um país com veículos de transportes equipados com avançada tecnologia, mas com infraestrutura nas estradas de décadas passadas. O sistema de transporte rodoviário no Brasil é de qualidade. Na contramão de tudo está a preservação das estradas, que em determinados trechos permanece sem as mínimas condições de trafegabilidade, seja de caminhões, de veículos de transporte de passageiros ou de carros de passeio”. Quem faz a avaliação é o presidente do Sindicato das Empresas de Transporte de Cargas de Carazinho e Região (Sindicar), Moisés Santos.

De acordo com o dirigente, o comprometimento da qualidade das rodovias, principalmente as federais, tem refletido diretamente no custo de manutenção dos veículos por parte das transportadoras e, também, aos donos de carros de passeio. “Os buracos nos asfaltos de Sul a Norte comprometem todo o sistema de suspensão dos caminhões e ônibus, quando não quebram no meio de uma viagem. Para agravar ainda mais a situação, os pneus novos, dependendo do tamanho do estrago, acabam tendo que ser trocados por causa dos buracos nas estradas. Todo este custo não tem como ser repassado. O prejuízo fica para a empresa ou para o autônomo, pois o dinheiro gasto em consertos não está nas planilhas de custos das empresas”, enfatiza Santos.

Segundo ele, já existem questionamentos e cobranças junto a instituições responsáveis pela conservação de rodovias sobre os motivos pelos quais os asfaltos no Brasil apresentam tantos problemas.

O diretor-presidente da TW Transportes de Carazinho, Alexandre Schmitz, de 1 a 10, dá nota 4 para as condições de trafegabilidades das rodovias brasileiras. De acordo com o presidente da empresa, a má conservação acaba comprometendo o item segurança e, também, aumentando o tempo de deslocamento do veículo, aumentando o custo para a transportadora. “O tempo é produção”, resume o empresário. Conforme Schmitz, a falta de infraestrutura e conservação reflete na precariedade das estradas, fato que coloca em risco a mercadoria que está sendo transportada.

Pedágios

O presidente do Sindicar também faz observações quanto ao sistema de pedágios que será reimplantado nas rodovias federais como, por exemplo, na BR 386, rodovia que liga Carazinho a Porto Alegre. “Já pagamos impostos no combustível e o IPVA para termos estradas com as mínimas condições de trafegabilidade. Mas não é isso que acontece. Agora, teremos como fonte de conservação das rodovias os pedágios. É mais uma tributação”, reclama.

Por outro lado, o presidente do Sindicar lembra que já houve avanços em função da luta das entidades que se colocaram contrárias ao modelo e valores dos pedágios que estavam sendo anunciados para a região. “Tivemos bons resultados com as audiências públicas, pois o governo estava propondo um valor acima dos R$ 11,00 em cada ponto de pedágio. Baixou para R$ 7,40. Também estava prevista inicialmente a duplicação do trajeto Carazinho a Lajeado após 12 anos. Com as reivindicações, a tendência é que tenhamos as primeiras duplicações da BR 386 no mesmo trajeto Carazinho-Lajeado acontecendo a partir do segundo ano do início da cobrança dos pedágios”, completou Santos.

Postado em 21 agosto 2018 06:56 por JEAcontece
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