Megaoperação da Polícia Civil cumpriu mandados com objetivo de descapitalizar criminosos especializados no golpe do bilhete premiado município

Em grego, Pólis significa cidade. Na História, assim é chamada a comunidade organizada formada pelos cidadãos, que exerciam a civilidade, na Grécia Antiga, segundo uma das definições. Sparta e Atenas são exemplos dessas “cidades-estados independentes”, que surgiram no século VIII a.C. e atingiram seu auge nos séculos VI e V a.C.

Mais de dois milênios depois, o termo foi empregado pela Polícia Civil para definir Passo Fundo. Mas, diferente das localidades gregas, o município não tornou-se conhecido pela formação de pensadores que fundariam várias áreas do conhecimento. Surgiram, em Passo Fundo, um grupo de golpistas conhecidos por aplicar o chamado conto do bilhete premiado em diversos locais do país.

O termo batizou uma operação da PC que investiga aproximadamente 150 pessoas no município pela prática criminosa. “É uma referência a Passo Fundo, que é conhecida como ‘a cidade’ do conto do bilhete”, disse o chefe da PC gaúcha, Emerson Wendt. No sábado, então, 430 agentes e delegados estiveram em Passo Fundo para cumprir 127 mandados de busca e apreensão.

O delegado disse que parte dos investigados são conhecidos da polícia pelo crime do golpe do bilhete. No entanto, dificilmente um criminoso fica recolhido por muito tempo pela prática. “Fica preso, no máximo, uma semana”, comentou Wendt. Por isso, o foco é colher provas para indiciar os envolvidos em crimes com penas mais duras. “Com a operação, nosso objetivo é formar a prova de associação criminosa e também da lavagem de dinheiro, com um viés também para recompor os valores às vítimas”, disse o chefe da Polícia Civil.

O objetivo é descapitalizar o grupo e buscar provas durante a investigação. “Na Polícia Civil, entendemos que, às vezes, é mais importante deixar o criminoso sem dinheiro do que deixá-lo no sistema prisional, coordenando operações criminosas fora [da cadeia] e tendo poder aquisitivo para isso”, explicou.

Na ação, não foram cumpridos mandados de prisão preventiva. Quatro pessoas foram presas porte porte ilegal de arma de fogo, durante as atividades dos policiais.

Apreensões
A Operação Pólis foi desencadeada após investigação iniciada em 2015, quando foi constatado que diversos veículos envolvidos na prática do conto do bilhete eram utilizados em Passo Fundo e tinham placas de outros municípios. Verificou-se também que determinados indivíduos, para não serem identificados na cidade, falsificavam comprovantes de moradia para emplacar os carros. O delegado Diogo Ferreira afirma que Passo Fundo é conhecido nacionalmente como berço e escola desse tipo de crime.

Atuação em diversos estados
O grupo investigado não costuma agir em Passo Fundo, mas em outras cidades do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo e Minas Gerais, a partir de pequenas células. “Os valores oriundos dos crimes são remetidos e aplicados em Passo Fundo, onde os suspeitos, mediante o uso de contas de parentes e ‘laranjas’, praticam a lavagem de dinheiro, movimentando altos valores em imóveis e veículos de luxo, joias e festas caras. Eles costumam ostentar na sociedade”, contou o delegado.

No curso das investigações, a Polícia Civil identificou mais de 150 envolvidos na atividade criminosa, entre pessoas físicas e jurídicas e localizou bens móveis e imóveis em nome de terceiros, o que motivou a representação pelas buscas, apreensão e bloqueio dos bens. “No andamento da investigação da lavagem [de dinheiro], se for o caso, os veículos poderão ser vendidos para cobrir os prejuízos das vítimas ou poderão virar viaturas. Temos apenas uma pequena noção [de como era lavado o dinheiro], que teremos conhecimento com o inquérito. Nós vamos analisar todos os documentos e vamos ver o que surge”, disse o delegado titular da Defrec. Os nomes dos investigados não foram divulgados. Os veículos apreendidos foram levados até o depósito do Detran em Passo Fundo.

Diário da Manhã