Com o preço da erva em alta, o mate está mais amargo

Postado em 08 abril 2013 07:23 por JEAcontece
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Chimarrão, mate, chimas… Todo mundo tem um jeito carinhoso de falar sobre a bebida -símbolo dos gaúchos. Em uma roda de chimarrão não existem diferenças de classes sociais, credos e, até mesmo, times de futebol. Sim, a grenalização de todos os assuntos não sobrevive a uma boa mateada. Porém, o velho e bom companheiro do início da manhã e finais de tarde agora ficou mais amargo.

Nos últimos cinco anos, segundo dados do Centro de Estudos e Pesquisas Econômicas (Iepe/UFRGS), o preço da erva-mate subiu 58% em Porto Alegre. Somente em 2012, o valor aumentou 12,1%. O alto custo da produção fez com que o sabor amargo fosse direto para o bolso do consumidor, que acaba buscando alternativas para não perder o hábito do chimarrão.

Nascido em São Borja, o vigia Aparício Ferreira dos Santos, 52 anos, orgulha-se do hábito de matear todos os dias. Aos oito anos de idade já fazia o próprio chimarrão na companhia de seus 14 irmãos. Pilchado, carregando uma mala de garupa, bigode alinhado, Aparício é a figura típica do gaúcho do pampa. Fala mansa, sotaque carregado, nem parece se incomodar com o barulho ensurdecedor dos açougues do Mercado Público. Pelo contrário, aquilo parece música para os seus ouvidos.

Morador do bairro Navegantes, na zona norte de Porto Alegre, Aparício consome de quatro a cinco quilos de erva-mate por mês. Há muitos anos opta por comprar erva a granel – quando o consumidor pode definir a quantidade que vai levar – nas bancas do Centro da Capital.

– É a opção mais barata. Venho duas vezes por mês para repor o estoque – explica.

Para Roberson Groff, 41 anos, as vendas seguem boas, apesar do preço. Proprietário de uma loja especializada em erva-mate, o comerciante conta que o estabelecimento chega a vender 200 quilos por dia.

– O segredo está em atingir todos os tipos de público. O chimarrão é uma bebida difundida entre as classes sociais. Nossa ideia é vender quanto o cliente desejar – afirma Groff.

Com a intenção de manter o hábito, o consumidor cria as suas próprias táticas para que o sabor fique amargo apenas na cuia, e não no bolso.

Alívio no bolso passa por aumento da produção
O Rio Grande do Sul é responsável por quase metade da produção nacional de erva-mate em cinco polos importantes: Palmeira das Missões, Machadinho, Erechim, Ilópolis e Venâncio Aires. Segundo a Emater, em 2012 o Estado produziu 273 milhões de toneladas. O volume indica crescimento de 4,5%, ante 2010 – último ano de comparação –, quando a colheita chegou a 260 milhões de toneladas.

A expectativa da Emater é que o setor se mantenha estável em 2013, produzindo a mesma quantidade do ano passado. Conforme o engenheiro agrônomo da Emater de Passo Fundo Ilvandro Barreto de Melo, a alta nos preços da erva-mate se explica com a redução da oferta de matéria-prima. Para o consumidor voltar a sorver um mate mais em conta, Melo aponta caminhos:

– É preciso melhorar a logística e reduzir o preço do combustível para o frete da safra, além de expandir o setor rural e ampliar os investimentos em pesquisas.

A criação recente do Instituto Brasileiro do Mate (Ibramate) deve promover novos estudos e ajudar diretamente na otimização da produção, consequentemente oferecendo o produto com um preço mais em conta para o consumidor.

Para o presidente do Sindicato da Indústria do Mate (Sindimate), Alfeu Strapasson, o instituto vai dar um norte ao setor, melhorando a qualidade e deixando o produto mais saudável. Strapasson critica a venda a granel e acredita que o consumidor corre riscos ao comprar a erva-mate sem estar embalada diretamente da fábrica.

– Mais do que conservar, a embalagem serve para a pessoa identificar as propriedades nutricionais do produto, além de saber onde foi produzida. Em muitos casos, o consumidor acha que está comprando um tipo de erva e acaba adquirindo uma de qualidade inferior – justifica.

Clima mais ameno no trabalho
Há pouco mais de sete meses como copeira no prédio da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Eloísa Vieira conquistou a simpatia de um andar da entidade com o seu chimarrão. Nascida em Venâncio Aires, uma das principais cidades produtoras da erva, aprendeu a fazer o próprio mate com seus pais, Adão e Elza. A dona Elô, como é chamada pelos colegas, tinha o hábito de fazer e sorver o próprio chimarrão.

– Eu chegava e preparava meu mate. Um dia as doutoras sugeriram de fazer o racha, e funciona assim até hoje – explica.

O grupo formado por quatro pessoas paga uma mensalidade de R$ 20 para dona Elô, que se responsabiliza por comprar a erva-mate em um armazém da sua rua, na Santa Isabel, bairro de Viamão. O resultado são duas mateadas diárias: uma pela manhã e outra pela tarde.

– É 10h e já tem a primeira roda de chimarrão da Elô – conta a advogada Thaís Feijó Pimentel, que integra o grupo.

Mais do que passar o tempo e tirar o peso do bolso ao dividir a despesa, o novo hábito serviu para fortalecer as amizades no sexto andar do prédio da OAB. Hoje, todos sabem que, a qualquer momento, a simpática copeira pode entrar na sala e anunciar:

– Chegou o chimarrão!

Troca-se hospedagem em Paris por erva-mate
Lógico que o título acima é uma brincadeira, mas tem um pouquinho de verdade. Morando há dois anos em Paris, o casal Gabriel Inticher Binkowski, 27 anos, e Juliana Maria Morais da Rosa Binkowski, 28 anos, vive dias de sonho na capital francesa. Gabriel faz doutorado em psicologia, enquanto Juliana estuda artes aplicada e estilismo.

As horas de estudo contrastam com passeios por parques e boulevards da Cidade Luz. Com o acesso restrito ao produto, a dupla adotou uma tática curiosa: usa uma cuia bem pequena para manter o estoque de erva-mate durante mais tempo.

– Outro ponto problemático é que a erva fica mais amarga ao envelhecer. Ou seja, não podemos guardar os pacotes. Além disso, muitas pessoas têm medo de trazer – diz.

Certa feita, encontraram uma erva-mate paranaense vendida por três euros em um pequeno mercado parisiense. Porém, não se adaptaram ao sabor. Por isso, preferem esperar que algum bom amigo leve o produto fabricado no Rio Grande do Sul.

Gabriel conta que na primavera e no verão, quando os todos parques e espaços verdes estão lotados, o casal toma bastante chimarrão. As pessoas costumam olhar e, especialmente as crianças, arregalam os olhos tentando entender que hábito seria aquele.

Os 10 mandamentos do chimarrão
• Não peças açúcar no mate
• Não digas que o chimarrão é anti-higiênico
• Não digas que o mate está quente demais
• Não deixes um mate pela metade
• Não te envergonhes do ronco no fim do mate
• Não mexas na bomba
• Não alteres a ordem em que o mate é servido
• Não durmas com a cuia na mão
• Não condenes o dono da casa por tomar o primeiro chimarrão
• Não digas que o chimarrão provoca câncer na garganta

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Postado em 08 abril 2013 07:23 por JEAcontece
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