Polícia indicia 16 pessoas por incêndio na boate Kiss

Postado em 22 março 2013 17:06 por JEAcontece
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A Polícia Civil indiciou 16 pessoas pelo incêndio na boate Kiss, em Santa Maria, ocorrido na madrugada do dia 27 de janeiro. Além deles, o prefeito de Santa Maria, Cezar Schirmer, será investigado por improbidade administrativa. Os resultados do inquérito policial sobre a tragédia, um vasto documento com cerca de 13 mil páginas, foram apresentados nesta sexta-feira pela cúpula da corporação no campus universitário da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Também foi confirmado que todas as 241 vítimas morreram por asfixia. Conforme exames do Instituto Geral de Perícia (IGP), 100% dos óbitos ocorreram pela inalação de dióxido de carbono com cianeto.

“Concluímos que há 35 indicativos de responsabilizações. Foram 16 indiciamentos criminais. Há 10 indícios de crime. Destes, nove vão para a Justiça Militar e um para o Tribunal de Justiça. Estamos apontado as pessoas que de alguma forma foram responsáveis por crime danoso”, comentou o delegado Marcelo Arigony.

Cinco delegados atuaram na investigação durante 55 dias: o titular da Delegacia Regional de Polícia Civil, delegado Arigony, além dos delegados Sandro Meinerz, Marcos Vianna, Luiza Souza e Gabriel Zanella. Entre os pontos abordados pelo delegado Arigony, que presidiu o inquérito, está a superlotação da casa noturna. “Temos certeza da superlotação da casa”, declarou. Segundo ele, 119 pessoas afirmaram em depoimento que havia mais de mil pessoas no local. “Com porta adequada, com ventilação, extintores, rota de fuga, sinalização e sem as barras de contenção que havia na saída, a boate Kiss poderia, talvez, comportar até 761 pessoas”, revelou.

Ainda conforme o delegado, 108 pessoas declararam que o vocalista da banda Gurizada Fandangueira, Marcelo de Jesus do Santos, usou fogo de artifício quando estava no palco e ergueu o objeto em direção ao teto. “Não há como negar que: o que botou fogo? O músico com fogo de artifício”, disse. Segundo o inquérito policial, o cantor tentou apagar os focos de incêndio com um extintor, que não funcionou. Em 40 segundos, o ambiente foi tomado pela fumaça preta provocada pelas chamas, disse Arigony: “Uma vasta prova testemunhal nos diz que rapidamente a fumaça tomou conta do ambiente e as pessoas não enxergaram mais nada”.

O delegado afirmou também que houve negligência dos músicos durante o incêndio: “A gente esperava que eles fossem os últimos a sair. Mas pelo contrário, eles deixaram o local por outro lado. Era responsabilidade deles tentar salvar o máximo de pessoas possível”.

Para o chefe da corporação, delegado Ranolfo Vieira Júnior, o inquérito é considerado o “maior da Polícia Civil”. “Isso é o início, a primeira conclusão, é um longo processo. A Polícia Civil torna pública aqui as suas conclusões. Amanhã ou depois será a vez do Ministério Público, que talvez, que é natural no processo, não concorde, ou aumente ou diminua o leque dessas responsabilizações. Num segundo momento será o Poder Judiciário”, sintetizou.

Indiciados

O prefeito de Santa Maria, Cezar Schirmer, deve ser investigado pela Justiça por improbidade administrativa. Será remetida uma cópia do inquérito policial à 4ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça Estado para apurar a responsabilidade do Executivo. Além dele, também vai ser investigado o comandante regional do Corpo de Bombeiros de Santa Maria, coronel Moisés Fuchs.

Foram indiciados por homicídio doloso – 241 vezes por asfixia e 623 vezes por tentativa de homicídio qualificado: Marcelo de Jesus dos Santos, vocalista da banda Gurizada Fandangueira; Luciano Augusto Leão, produtor da banda Gurizada Fandangueira; Elissandro Spohr, sócio da Kiss; Mauro Hoffman, sócio da Kiss; Ricardo de Castro Pasche, gerente da boate Kiss; Ângela Aurélia Callegaro, irmã de Elissandro e gerente da boate, que está registrada no nome dela; Marlene Teresinha Callegaro, mãe de Elissandro e sócia da boate; Gilson Martins Dias, bombeiro vistoriador; e Vagner Guimarães Coelho, bombeiro vistoriador.

Luiz Alberto Junior, secretário municipal do Meio Ambiente, foi indiciado por homicídio culposo, assim como Miguel Caetano Passini, secretário de Mobilidade Urbana, Beloyannes Orengo de Pietro Júnior, chefe de fiscalização da Secretaria de Mobilidade Urbana e Marcus Vinicius Bittencourt Biermann, funcionário da Secretaria de Finanças, que emitiu o alvará de localização. Por fraude processual, a polícia apontou os nomes do major Gerson da Rosa Pereira, bombeiro que incluiu documentos na pasta referente ao alvará, e do sargento Renan Severo Berleze, também pela inclusão de documentos. O ex-sócio da boate Elton Cristiano Uroda foi denunciado por falso testemunho.

Cercado de expectativa, o documento foi levado para o Fórum de Santa Maria sob um forte esquema de segurança no início da tarde. Mais cedo, após um encontro com o delegado Marcelo Arigony, o presidente da Associação de Familiares e Vítimas da Tragédia de Santa Maria, Adherbal Ferreira, disse que espera justiça e punição aos responsáveis. “Esperamos que os que erraram sejam punidos. Queremos justiça, mas não vingança e tudo com serenidade, consciência e muita paz”, ponderou.

A tragédia

O incêndio na boate Kiss – que fica na Rua dos Andradas, Centro de Santa Maria – começou por volta das 2h30min da madrugada de 27 de janeiro. O público participava de uma festa organizada por estudantes da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). A tragédia deixou 241 pessoas mortas.

Segundo testemunhas, o fogo teria começado quando um dos integrantes da banda Gurizada Fandangueira, que acabara de subir ao palco, lançou um sinalizador. O objeto teria encostado na forração da casa noturna. As pessoas não teriam percebido o fogo de imediato, mas assim que o incêndio se espalhou, a correria teve início. Conforme relatos, os extintores posicionados na frente do palco não funcionaram.

Em pânico, muitos não conseguiram encontrar a única porta de saída do local e correram para os banheiros. Aqueles que conseguiram fugir em direção à saída, ficaram presos nos corrimãos usados para organizar as filas. A boate foi tomada por uma fumaça preta e as pessoas não conseguiam enxergar nada. A maioria morreu asfixiada dentro dos banheiros ou na parte dos fundos da boate.

Correio do Povo

Postado em 22 março 2013 17:06 por JEAcontece
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