O que o dólar tem que o euro não tem

Postado em 26 dezembro 2012 07:44 por JEAcontece
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Passados 13 anos desde sua introdução, o euro conseguiu se estabelecer como segunda moeda mais importante do mundo, mas, mesmo assim, a moeda ainda é vista como segunda opção. Atualmente os Estados Unidos passam por uma séria discussão orçamentária entre democratas e republicanos. Caso eles não cheguem a um acordo até o fim do ano, entrarão em vigor cortes no orçamento anual e aumentos de impostos em torno de 600 bilhões de dólares. Isso fará com que a economia do país entre em recessão.

Em função da ameaça de “abismo fiscal” (fiscal cliff), o dólar se desvalorizou em relação ao euro. Mas nem por isso há temores de que os países que adotam a moeda desmoronem-se economicamente, nem que o dólar possa algum dia vir a desaparecer.

Ao euro, por sua vez, só resta a inveja de uma crença tão ardorosa na solidez do dólar. Pois mesmo diante da negação do Banco Central Europeu (BCE) de que há um perigo iminente de desintegração da união monetária europeia, o euro não é considerado, de fato, uma moeda segura. A OCDE, por exemplo, continua vendo riscos para a existência da zona do euro.

Governo central forte

Mas o que o dólar tem, que o euro não tem? “Muita coisa”, diz Achim Wambach, diretor do Instituto de Política Econômica da Universidade de Colônia. Primeiro, o dólar tem um governo central forte. “Grande parte do orçamento fiscal passa por Washington e não pelos estados norte-americanos separadamente”, afirma Wambach à Deutschen Welle.

A união monetária europeia, por sua vez, não é uma união política. O orçamento de toda a UE corresponde a 1% do PIB conjunto dos países-membros do bloco. E a zona do euro não tem nem ao menos um orçamento próprio.

Bancos independentes

A grande interdependência entre os bancos da zona do euro e os respectivos países individualmente é outro calcanhar de Aquiles da moeda. Os exemplos da Irlanda e da Espanha mostram como bancos e Estados podem se arrastar mutuamente abismo abaixo.

Para o economista Clemens Fuest, o grande erro do euro é o fato de o sistema financeiro não ter sido adequado à união monetária. “Deveria ter sido previsto que, dentro da união monetária, um país pode se tornar insolvente, e que deve ser possível, nesse caso, um corte na sua dívida”, diz Fuest à DW.

Para que isso ocorra, os bancos precisam ser tão sólidos que possam suportar tal corte. Ou seja, eles teriam que ter mais capital próprio, completa o economista. Os EUA, por exemplo, jamais teriam bancos que fossem dependentes de seus estados federados, opina Wambach: “Se a Califórnia declarasse insolvência, os californianos não precisariam se preocupar com suas poupanças, pois essas não estariam num banco californiano, mas num banco americano”, compara o economista.

Sem perigo de contágio

Isso explica, inclusive, o baixo perigo de contágio entre os bancos norte-americanos. Se o estado de Minnesota está ameaçado de falir, o estado de Michigan não correrá risco de ser arrastado junto. Ao contrário da zona do euro: aqui, qualquer ponto de crise guarda em si o potencial de alastrar o fogo. Caso a Grécia deixasse a zona do euro, a pergunta seguinte seria: qual é o próximo?

Esta é também a razão pela qual a proibição de auxílio que consta dos contratos da UE não é levada a sério pelos mercados financeiros. De forma que cada país que adota o euro carrega ele próprio pouca responsabilidade por sua própria política fiscal, uma vez que, na pior das hipóteses, poderá cogitar a possibilidade de ser salvo pelos outros.

Cada país por si

Ao contrário dos EUA, onde cada estado arca com suas próprias dívidas. Se um deles tem sérios problemas financeiros, precisa economizar radicalmente. Há um mecanismo que cessa automaticamente o orçamento, explica Wambach, tomando a Califórnia novamente como exemplo: “Vimos em meio à crise que os funcionários das universidades foram obrigados a tirar férias prolongadas e tiveram seus salários reduzidos”.

Outra medida que contribui para a disciplina orçamentária dos estados norte-americanos é a quitação anual das dívidas nas contas das 12 filiais do Fed, o Sistema Federal de Reservas dos EUA. Isso existe para evitar que as regiões em dificuldades financeiras façam uso da emissão de dinheiro às custas dos outros.

O BCE não é o Fed

Mario Draghi, presidente do Banco Central Europeu (BCE), prometeu, em meados de 2012, que o BCE iria fazer de tudo para salvar o euro. Mas enquanto o Fed apoia o dólar, e o Bank of England, a libra esterlina, o BCE não está em condições de tomar decisões rápidas que protejam o euro.

Esta talvez seja a diferença mais crucial entre o dólar e o euro. Embora seu mandato tenha sido prorrogado em meio à crise, “o BCE continua sendo, como antes, uma instituição federal, ancorada em 17 Bancos Centrais nacionais. Ele não é um banco ativo autônomo. Por isso, o euro continua sendo uma moeda frágil”, disse Marsch.

Deutsche Welle

Postado em 26 dezembro 2012 07:44 por JEAcontece
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