Condenação de Dirceu está em “bom caminho”, diz Gurgel

Postado em 01 setembro 2012 08:51 por JEAcontece
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O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, disse nesta sexta-feira que o julgamento da ação penal do chamado mensalão no Supremo Tribunal Federal (STF) está num “bom caminho” para a condenação do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, chamado por ele de “chefe de quadrilha” do suposto esquema. “Nós estamos num bom caminho”, disse Gurgel a um pequeno grupo de jornalistas ao ser perguntado se o julgamento estaria na direção para a condenação de Dirceu.

Gurgel pediu a condenação de todos os réus envolvidos no mensalão, à exceção do ex-ministro Luiz Gushiken e de Antônio Lamas, e considerou Dirceu o mentor e arquiteto do suposto esquema de desvio de recursos públicos e compra de apoio parlamentar, que veio à tona em 2005. Dirceu renunciou ao cargo na esteira do escândalo, que foi a pior crise política do governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e teve seu mandato de deputado federal cassado.

A defesa do petista alega falta de provas materiais que comprovem a participação dele no suposto esquema. Já Gurgel alegou haver evidência “contundente” da atuação de Dirceu como líder do “grupo criminoso”, mas reconheceu, ao ler a denúncia no plenário da Corte, que, como todo “chefe de quadrilha”, o ex-ministro não deixou rastros. O procurador disse ainda que as primeiras condenações no julgamento derrubam a tese da defesa de que o suposto esquema não existiu.

“As primeiras condenações são muito importantes na medida em que demonstram que a acusação formulada pelo Ministério Público está muito longe de ser aquele delírio que a defesa concebia”, disse ele após participar da posse do novo presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), Felix Fischer. Dirceu é considerado o principal réu do processo e responde aos crimes de formação de quadrilha e corrupção ativa.

O julgamento no STF já condenou cinco réus por desvios de recursos públicos em contratos de publicidade na Câmara dos Deputados e no Banco do Brasil. Entre eles está o deputado federal João Paulo Cunha (PT-SP), primeiro réu condenado e único candidato nas eleições de outubro. Ele retirou sua candidatura após a condenação.

O cálculo das penas só será feito no final do julgamento, mas o ministro Cezar Peluso, que deixou a Corte compulsoriamente pois completará 70 anos na segunda, condenou o político a 6 anos de prisão e perda de seu mandato de deputado. O cálculo de Peluso baseia-se apenas nos crimes de corrupção ativa e peculato, mas o petista também foi condenado por lavagem de dinheiro, o que deverá fazê-lo perder o direito ao regime semiaberto.

Gurgel foi perguntado se a perda do mandato do parlamentar será automática caso o STF determinar como parte da pena, e respondeu que a decisão da Corte terá que ser cumprida. “A Constituição prevê um procedimento pela mesa da Câmara, a quem cabe verificar algumas formalidades. Mas, na verdade, a decisão judicial terá que ser cumprida”, disse ele.

Com a saída de Peluso, a Corte ficou com 10 magistrados, o que abre a possibilidade de empates em determinados casos. Gurgel disse não se preocupar com este cenário e que acredita que “continuaremos tendo uma diferença significativa e espero que sempre a favor da condenação”. O julgamento do chamado mensalão prossegue na segunda-feira, quando o relator da ação, Joaquim Barbosa, seguirá com a leitura do seu voto relativos à acusação de gestão fraudulenta de instituição financeira.

O mensalão do PT
Em 2007, o STF aceitou denúncia contra os 40 suspeitos de envolvimento no suposto esquema denunciado em 2005 pelo então deputado federal Roberto Jefferson (PTB) e que ficou conhecido como mensalão. Segundo ele, parlamentares da base aliada recebiam pagamentos periódicos para votar de acordo com os interesses do governo Luiz Inácio Lula da Silva. Após o escândalo, o deputado federal José Dirceu deixou o cargo de chefe da Casa Civil e retornou à Câmara. Acabou sendo cassado pelos colegas e perdeu o direito de concorrer a cargos públicos até 2015.

No relatório da denúncia, a Procuradoria-Geral da República apontou como operadores do núcleo central do esquema José Dirceu, o ex-deputado e ex-presidente do PT José Genoino, o ex-tesoureiro do partido Delúbio Soares e o ex- secretário-geral Silvio Pereira. Todos foram denunciados por formação de quadrilha. Dirceu, Genoino e Delúbio respondem ainda por corrupção ativa.

Em 2008, Sílvio Pereira assinou acordo com a Procuradoria-Geral da República para não ser mais processado no inquérito sobre o caso. Com isso, ele teria que fazer 750 horas de serviço comunitário em até três anos e deixou de ser um dos 40 réus. José Janene, ex-deputado do PP, morreu em 2010 e também deixou de figurar na denúncia.

O relator apontou também que o núcleo publicitário-financeiro do suposto esquema era composto pelo empresário Marcos Valério e seus sócios (Ramon Cardoso, Cristiano Paz e Rogério Tolentino), além das funcionárias da agência SMP&B Simone Vasconcelos e Geiza Dias. Eles respondem por pelo menos três crimes: formação de quadrilha, corrupção ativa e lavagem de dinheiro.

A então presidente do Banco Rural, Kátia Rabello, e os diretores José Roberto Salgado, Vinícius Samarane e Ayanna Tenório foram denunciados por formação de quadrilha, gestão fraudulenta e lavagem de dinheiro. O publicitário Duda Mendonça e sua sócia, Zilmar Fernandes, respondem a ações penais por lavagem de dinheiro e evasão de divisas. O ex-ministro da Secretaria de Comunicação (Secom) Luiz Gushiken é processado por peculato. O ex-diretor de Marketing do Banco do Brasil Henrique Pizzolato foi denunciado por peculato, corrupção passiva e lavagem de dinheiro.

O ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha (PT-SP) responde a processo por peculato, corrupção passiva e lavagem de dinheiro. A denúncia inclui ainda parlamentares do PP, PR (ex-PL), PTB e PMDB. Entre eles o próprio delator, Roberto Jefferson.

Em julho de 2011, a Procuradoria-Geral da República, nas alegações finais do processo, pediu que o STF condenasse 36 dos 38 réus restantes. Ficaram de fora o ex-ministro da Comunicação Social Luiz Gushiken e o irmão do ex-tesoureiro do Partido Liberal (PL) Jacinto Lamas, Antônio Lamas, ambos por falta de provas.

A ação penal começou a ser julgada em 2 de agosto de 2012. A primeira decisão tomada pelos ministros foi anular o processo contra o ex-empresário argentino Carlos Alberto Quaglia, acusado de utilizar a corretora Natimar para lavar dinheiro do mensalão. Durante três anos, o Supremo notificou os advogados errados de Quaglia e, por isso, o defensor público que representou o réu pediu a nulidade por cerceamento de defesa. Agora, ele vai responder na Justiça Federal de Santa Catarina, Estado onde mora. Assim, restaram 37 réus no processo.

Reuters

Postado em 01 setembro 2012 08:51 por JEAcontece
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