Crise na Rússia pressiona emergentes, mas boa reserva protege Brasil

Postado em 22 dezembro 2014 06:50 por JEAcontece
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Na TV russa no dia 15 de dezembro à noite, nenhum dos três principais canais teve como manchete a queda do rublo: 10%. Mas o assunto não passou despercebido fora do país. De madrugada, veio a decisão do Banco Central russo de elevar a taxa básica de juros de 10,5% para 17%, num esforço de conter a desvalorização da moeda, que perdeu metade do seu valor frente ao dólar neste ano.

Mas a medida pareceu ineficaz: a moeda voltou a cair mais de 10%, maior recuo desde a crise financeira de 1998, expondo a falta de confiança de investidores na economia russa.

A turbulência russa se reflete em outros emergentes. O real brasileiro e a lira turca, por exemplo, têm se desvalorizado ante o dólar, e o índice MSCI de emergentes voltou aos níveis de março.

O presente não tem sido fácil para a Rússia. A economia sofre com a forte queda do preço do petróleo e as sanções internacionais devido o conflito na Ucrânia. O futuro tampouco parece melhor.

A taxa de juros maior ajudará a conter a inflação, que caminha para os dois dígitos, mas deverá conter o crescimento do país, que está à beira da recessão.

O Banco Mundial previu que a economia deverá recuar até 0,7% em 2015 – mas cenário tende a piorar se o preço baixo do petróleo persistir. O presidente, Vladimir Putin, alertou russos sobre tempos difíceis em seu discurso anual ao Parlamento.

“Países emergentes, em linhas gerais, são os mais afetados”, disse Silvio Campos Neto, da Tendências Consultoria. “Já tem um contágio via mercados. E, por enquanto, é um caminho sem reversão”.

Cascata?

Em 1998, a Rússia declarou moratória de sua dívida após o colapso da moeda. Por enquanto, um cenário de crise em cascata entre os emergentes – comum nos anos 1990 – parece distante.

Fundamentos econômicos destes países estão mais sólidos e muitos deles acumularam reservas significantes, capazes de amortecer choques externos fortes, diz Irene Mia, da Economist Intelligence Unit, em Londres.

“Há um grande ponto de interrogação sobre os mercados emergentes. E o Brasil é um dos países que os mercados estão olhando. (Mas) O Brasil está relativamente protegido por suas grandes reservas de moeda estrangeira.”

As reservas do Brasil somam US$ 375 bilhões, segundo o Banco Central. Aqui, o impacto está contido ao mau humor de investidores estrangeiros avessos a risco em mercados emergentes. Junta-se a isso a desconfiança diante de problemas internos, como crescimento baixo e inflação alta.

Investidores seguem atentos à disposição da nova equipe econômica de realizar ajustes fiscais e retomar a credibilidade, além de denúncias de corrupção na Petrobras, que têm sido um golpe no desempenho da estatal na bolsa.

Há, ainda, um cenário de Europa estagnante e China com crescimento menor, o que tem atingido diretamente países exportadores de matéria-prima, como o Brasil.

“O Brasil está numa posição que tem pontos de fragilidade. É um mau humor que tem se expandido. Países exportadores de commodities têm sentido as preocupações com a China. E, aqui, o impacto é mais agudo devido aos problemas locais”, disse Neto, da Tendências.

A Rússia não está quebrada – ainda. Em meados do ano, o Fundo Monetário Internacional (FMI) estimou que o país tivesse reservas equivalentes a um ano de importações. Este nível deve estar perto de 10 meses agora, mas ainda dá certa cobertura.

Estômago forte

Problemas podem vir também na área comercial. Petróleo e gás representam dois terços das exportações russas, de cerca de US$ 530 bilhões. Sem eles, o país teria um grande déficit comercial e de transações financeiras – razão pela qual o BC russo espera uma saída de capital superior a US$ 100 bilhões neste ano e no próximo.

O comércio bilateral é de US$ 6,3 bilhões neste ano até novembro – num cenário de quase US$ 420 bilhões em transações comerciais brasileiras.

“Não vai ter nenhum tipo de mudança drástica num primeiro momento, mas você tem uma piora na capacidade (russa) de importar”, disse Neto, da Tendências. “O quadro é muito delicado e, a curto prazo, não é nada animador.”

Para Laith Khalaf, analista sênior da Hargreaves Lansdown, os sinais são claros: “Para investidores que querem se expor à Rússia, um horizonte a longo prazo e um estômago forte são obrigatórios”.

(BBC Brasil)

Postado em 22 dezembro 2014 06:50 por JEAcontece
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